Todo dia é de poesia, mas hoje ainda é mais!

14 março, 2008
O título deste post é do amigo Fernando.

O dia 14 de março foi escolhido como o Dia Nacional da Poesia em homenagem ao grande poeta baiano Castro Alves (1847-1871), o Poeta dos Escravos. É o dia do seu nascimento.

Poeta romântico, movido por anseios de liberdade e justiça, defendia o fim da escravidão. No seu livro Os Escravos estão os poemas mais clássicos: Navio Negreiro e Vozes d'África.
As poesias lírico-amorosas estão em Espumas Flutuantes. Outras tantas estão reunidas em A Cachoeira de Paulo Afonso.
Há ainda grande número de belíssimos poemas avulsos, dentre os quais transcrevo:

Fados Contrários

Diz à flor a borboleta:
"Vamos, irmã, tudo é luz!
Há muito prisma doirado
Que pelos ares transluz...
Tuas pétalas são asas...
Das nuvens nas tênues gazas,
D'aurora nos seios nus
Tens um ninho entre perfumes...
Vamos boiar, entre lumes
Desses páramos azúis".

À linda filha dos ares,
Responde a silvestre flor:
"Eu amo o gemer das auras
E o beijo do beija-flor...
Se és do céu a violeta,
Sigo um destino menor.
Buscas o céu - eu a alfombra,
Queres a luz - quero a sombra,
Pedes glória - eu peço amor.



Feita a homenagem ao patrono do dia, vale lembrar outro grande poeta: Vinicius de Moraes.

Nascido no Rio de Janeiro, em 19 de outubro de 1913, foi diplomata, poeta, compositor, dramaturgo, crítico de cinema, muitos de seus poemas foram musicados, e viveu, viveu intensamente.

Vinicius era tantos que dele disse Manoel Bandeira: "Tem o fôlego dos românticos, a espiritualidade dos simbolistas, a perícia dos parnasianos (sem refugar, como estes, as sutilezas barrocas) e, finalmente, homem bem do seu tempo, a liberdade, a licença, o esplêndido cinismo dos modernos".


Soneto de Separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

- Poemas, Sonetos e Baladas -


Libelo
De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar - e um barco com o nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar?

E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos, uma pro caniço, outra pro queixo, que é pra ele poder se perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra puxar tristeza, e um pouco de pensamento pra pensar até se perder no infinito...

- Mas o amigo foi ludibriado, e é preciso por ele lutar!

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra - um pedaço bem verde de terra - e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um modesto pomar; e um jardim - que um jardim é importante - carregado de flor de cheirar?

E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos pra mexer na terra e arranhar uns acordes no violão quando a noite se faz de luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa sem mistério não vale morar...

- Mas a terra foi escravizada, e é preciso por ela lutar!

De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um amigo bem seco, bem simples, desses que nem precisa falar - basta olhar - um desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra briga, um amigo de casa e de bar?

E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à vontade ao amigo?

- Mas o amigo foi ludibriado, e é preciso por ele lutar!

De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma mulher com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular? E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de um carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o desatino o carrega em sua onda sem rumo?

Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher - as únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo amigo...

- Para uma menina com uma flor -
(Uma crônica belíssima. Não será ela também poesia?)



Eu Sei Que Vou Te Amar

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

- Música em parceria sublime com Tom Jobim -
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Henry Marie Raymond de Toulouse-Lautrec

06 março, 2008
Toulouse-Lautrec, um dos grandes gênios da pintura, nasceu na França, em 1864, numa família de aristocratas. Sua vida foi marcada por uma doença óssea que lhe fez fraturar o fêmur esquerdo aos 14 anos e o direito menos de um ano depois. A partir daí, as pernas se atrofiaram tão severamente que lhe dificultavam a locomoção, e sua estatura não passava de 1,52m. O desgosto com a aparência pode ter sido o motivo do alcoolismo, da vida boêmia e da morte prematura aos 37anos.

Em 1881, montou um ateliê no bairro de Montmartre, Paris. Vivia pelos cabarés, teatros, prostíbulos, sempre em rodas de amigos, cercado por criadas, cortesãs e artistas populares - essa a atmosfera que tornaria célebre sua obra.

Apesar de ter sido contemporâneo dos impressionistas, ao contrário deles, não se interessava por paisagens, e sim por ambientes interiores. Seu estilo era de pinceladas rápidas, com elementos essenciais destacados por meio de colorido leve e suave, de extraordinário equilíbrio cromático, aplicação da cor em áreas planas e uniformes. As figuras se situam na tela em contornos sintéticos, de forma que as pernas não fiquem visíveis e o movimento seja apenas sugerido, podendo tal detalhe ser interpretado como um reflexo de sua própria condição física.

Influenciado no início por Degas e pela gravura japonesa, adquiriu personalidade artística própria, conhecida como expressionismo psicológico.
A partir de 1892, dedicou-se à litografia - produziu mais de 300 - com destaque à série Elles, um panorama da vida nos bordéis.
Os cartazes que fez para Aristide Bruant, Jane Avril, May Belfort e outros artistas, lhe deram excepcional popularidade, assim como as litografias.

A importância da obra de Toulouse-Lautrec foi reconhecida como uma revolução na concepção do cartaz publicitário, prefigurando os revolucionários movimentos artísticos do século XX, como o fauvismo, o cubismo e o expressionismo.

















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