Um pouco de música

31 julho, 2008
Ando sem inspiração para escrever. É como não ter o que falar, ou não querer falar, acaba dando no mesmo, são minhas fases de recolhimento. Quando estou desse jeito leio muito e ouço música quase todo o tempo - com headfone, num comportamento de egoísmo explícito. Aliás, sou do tempo que headfone era apropriadamente chamado de "egoísta"...

Vou deixar músicas para quem aparecer por aqui. Cada uma delas diz um pouco do que não estou conseguindo expressar com palavras, um pouco do que tem ocupado meus pensamentos. Quem gostar de boa música, certamente, irá ouvir.








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João Ubaldo Ribeiro - Prêmio Camões 2008

27 julho, 2008
Faz bem ao nosso patriotismo tão combalido uma notícia como essa! Estamos cansados das manchetes sobre violência, corrupção, e toda a sorte de mazelas que nos horrorizam cotidianamente. Uma mudança de foco ameniza a dor e deixa aquele fiozinho de esperança a dizer que nem tudo está perdido no nosso Brasil Brasileiro. Pessoas como ele deveriam se multiplicar em todos os cantos por aqui, e teríamos nossa realidade transformada.

João Ubaldo é um dos maiores escritores da atualidade. Como se não bastasse o enorme talento, é inteligente, culto e, acima de tudo, um digno cidadão brasileiro. Portanto, a premiação foi mais que merecida.

Nasceu em Itaparica, Bahia, em 1941, filho de Maria Felipa Osório Pimentel e Manoel Ribeiro. Seu pai era extremamente severo, principalmente em relação aos estudos, e Ubaldo, assim que alfabetizado, aos 6 anos, passava horas lendo na biblioteca de sua casa, principalmente Monteiro Lobato. No colégio foi aluno brilhante, estudava latim, francês, inglês, e ainda fazia resumos e traduções dos livros que lia.

Começou a trabalhar aos 16 anos como repórter no Jornal da Bahia. Cursou Direito na Universidade Federal da Bahia e fez pós-graduação em Administração Pública.
Escreveu seu primeiro romance em 1963: Setembro não faz sentido.
Em 1964 foi fazer mestrado em Administração Pública e Ciência Política na Universidade da Califórnia do Sul. Voltou ao Brasil em 1965, e por 6 anos foi professor de Ciências Políticas na Universidade Federal da Bahia, de onde saiu para voltar ao jornalismo.
Com Sargento Getúlio, lançado em 1971, recebeu no ano seguinte o Prêmio Jabuti concedido pela Câmara Brasileira do Livro, na categoria Revelação de Autor.
Em 1994 foi eleito para ocupar a cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras, cujo Patrono é Sousa Caldas (1762-1814).
Sua vasta obra reúne romances, contos, crônicas, ensaios, literatura infantil, muitas traduzidas em vários idiomas.

O Prêmio Camões foi instituído por Brasil e Portugal em 1988, e é conferido anualmente a autores de língua portuguesa que, pelo conjunto da obra, tenham contribuído para enriquecer o patrimônio cultural e literário das duas nações.

Como disse José Saramago, em entrevista sobre a premiação de João Ubaldo Ribeiro, também tenho vontade de dizer bem alto: Viva o Povo Brasileiro!
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A história é a mesma

06 julho, 2008
Não é difícil ouvir as pessoas dizerem que atualmente a vida é pior do que antes. Fala-se que não havia tanta violência, tanta corrupção, tantas coisas deploráveis. No entanto, se analisarmos com mais atenção, veremos que não é bem assim.

O homem primitivo lutava apenas para sobreviver, fosse para se defender de ataques de animais ferozes ou para se alimentar. Mesmo quando se estabeleceu em alguma caverna, já vivendo em bandos, continuou lutando apenas pela sobrevivência, na disputa por abrigo e comida. Mais adiante, começou a fabricar utensílios que tinham finalidades específicas, conforme o local onde habitava e o tipo de desenvolvimento que havia adquirido. Num determinado momento, por bondade ou interesse, alguém ofereceu um objeto ao outro, e este, por sua vez, retribuiu com comida ou com um objeto diferente. Estabelecia-se a troca.

Passado certo tempo, quando o escambo já era efetuado entre bandos distintos, foi criada a moeda, substituindo a simples troca de mercadorias. Há divergências sobre qual povo foi o primeiro a utilizar a técnica da cunhagem de moedas, talvez os chineses ou os lídios, no século VII aC; isso não faz a menor diferença. Importa é que, a partir daí, todo o significado da existência humana se transformou radicalmente.

A moeda nunca foi um fim, um objetivo, ela é um meio para a conquista do poder e a consequente submissão daqueles que não conseguem obtê-la. A lei do mais forte dominando o mais fraco foi substituída pela lei do poderoso contra o despossuído, e a moeda tornou-se símbolo desse processo.

Nada do que existe hoje é pior do que já foi um dia. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, cada vez mais complexo e sofisticado, bem como a divulgação implacável de quaisquer fatos da vida nas mais variadas mídias, causa a sensação que tudo agora é maior e mais frequente que antes. No entanto, a vida é como sempre foi na essência. Pode-se compará-la a uma peça teatral muito antiga, a mais remota que se tem conhecimento, que através do tempo vai sendo encenada sistematicamente; mudam apenas o cenário, o figurino, os atores e a forma de expressão.

Quem dispensa os acessórios percebe o fundamental e sabe que a história é a mesma, apenas contada de forma diferente.

Imagem: betty
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