Clarice Lispector entrevista Tom Jobim

09 dezembro, 2010
Tom Jobim foi o meu padrinho no I Festival de Escritores, não lembro em que ano, no lançamento de meu romance "A maçã no escuro". E na nossa barraca ele fazia brincadeiras: segurava o livro na mão e perguntava:
– Quem compra? Quem quer comprar?

Não sei, mas o fato é que vendi todos os exemplares.

Um dia, faz algum tempo, Tom veio me visitar; há anos que não nos víamos. Era o mesmo Tom: bonito, simpático, com o ar de pureza que ele tem, com os cabelos meio caídos na testa. Um uísque e conversa que foi ficando mais séria. Reproduzirei literalmente nossos diálogos (tomei notas, ele não se incomodou).

– Tom, como é que você encara o problema da maturidade?

– Tem um verso do Drummond que diz: "A madureza, esta horrível prenda..." Não sei Clarice, a gente fica mais capaz, mas também mais exigente.

- Não faz mal, a gente exige bem.

– Com a maturidade, a gente passa a ter consciência de uma série de coisas que antes não tinha, mesmo os instintos, os mais espontâneos passam pelo filtro. A polícia do espaço está presente, essa polícia que é a verdadeira polícia da gente. Tenho notado que a música vem mudando com os meios de divulgação, com a preguiça de se ir ao Teatro Municipal. Quero te fazer esta pergunta a respeito da leitura de livros, pois hoje em dia estão ouvindo televisão e rádio de pilha, meios inadequados. Tudo o que escrevi de erudito e mais sério fica na gaveta. Que não haja mal-entendido: a música popular, considero-a seríssima. Será que hoje em dia as pessoas estão lendo como eu lia quando garoto, tendo o hábito de ir para a cama com um livro antes de dormir? Porque sinto uma espécie de falta de tempo da humanidade - o que vai entrar mesmo é a leitura dinâmica. Que é que você acha?

– Sofro se isso acontecer, que alguém leia meus livros apenas no método do vira-depressa-a-página dinâmico. Escrevi-os com amor, atenção, dor e pesquisa e queria de volta como mínimo uma atenção completa. Uma atenção e um interesse como o seu, Tom. E no entanto o cômico é que eu não tenho mais paciência de ler ficção.

– Mas aí você está se negando, Clarice!

– Não, meus livros, felizmente para mim, não são superlotados de fatos, e sim da repercussão dos fatos no indivíduo. Há quem diga que a música e a literatura vão acabar. Sabe quem disse isso? Henry Miller. Não sei se ele queria dizer para já ou para daqui a 300 ou 500 anos. Mas eu acho que nunca acabarão.

Riso feliz de Tom:
- Pois eu, sabe, também acho!

– Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita é como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal.

– E mineral também, e vegetal também! (Ele ri.) Acho que sou um músico que acredita em palavras. Li ontem o teu O búfalo e A imitação da rosa.

– Sim, mas é a morte às vezes.

– A morte não existe, Clarice. Tive uma experiência que me revelou isso. Assim como também não existe o eu nem o euzinho nem o euzão. Fora essa experiência que não vou contar, temo a morte 24 horas por dia. A morte do eu, eu te juro, Clarice, porque eu vi.

– Você acredita na reencarnação?

– Não sei. Dizem os hindus que só entende de reencarnação quem tem consciência das várias vidas que viveu. Evidentemente, não é o meu ponto de vista: se existe reencarnação, só pode ser por um despojamento.

Dei-lhe então a epígrafe de um de meus livros: é uma frase de Bernard Berenson, crítico de arte: "Uma vida completa talvez seja aquela que termina em tal identificação com o não-eu que não resta um eu para morrer."

– Isto é muito bonito – disse Tom – é o despojamento; Caí numa armadilha porque sem o eu, eu me neguei. Se nos negamos qualquer passagem de um eu para outro, o que significa reencarnação, então a estamos negando.

– Não estou entendendo nada do que estamos falando, mas faz sentido. Como podemos falar do que não entendemos! Vamos ver se na próxima reencarnação nós dois nos encontraremos.

Depois falamos sobre o fato de que a sociedade industrial organiza e despersonaliza demais a vida. E se não cabia aos artistas o papel de preservar não só a alegria do mundo como a consciência do mundo.

– Sou contra a arte de consumo. Claro, Clarice, que eu amo o consumo... Mas do momento em que a estandardização de tudo tira a alegria de viver, sou contra a industrialização. Sou a favor do maquinismo que facilita a vida humana, jamais a máquina que domina a espécie humana. Claro, os artistas devem preservar a alegria do mundo. Embora a arte ande tão alienada e só dê tristeza ao mundo. Mas não é culpa da arte porque ela tem o papel de refletir o mundo. Ela reflete e é honesta. Viva Oscar Niemeyer e viva Vila-Lobos! Viva Clarice Lispector! Viva Antônio Carlos Jobim! A nossa é uma arte que denuncia. Tenho sinfonias e músicas de câmara que não vêm à tona.

– Você não acha que é seu dever o de fazer a música que sua alma pede? Pelas coisas que você disse, suponho que significa que o nosso melhor está dito para as elites?

– Evidentemente que nós, para nos expressarmos, temos que recorrer à linguagem das elites, elites estas que não existem no Brasil... Eis o grande drama de Carlos Drummond de Andrade e Vilas-Lobos.

– Para quem você faz música e para quem eu escrevo, Tom?

– Acho que não nos foi perguntado nada a respeito e, desprevenidos, ouvimos no entanto a música e a palavra, sem tê-las realmente aprendido de ninguém. Não nos coube a escolha: você e eu trabalhamos sob uma inspiração. De nossa ingrata argila de que é feito o gesso. Ingrata mesmo para conosco. A crítica que eu faria, Clarice, nesse confortável apartamento no Leme, é de sermos seres rarefeitos que só se dão em determinadas alturas. A gente devia se dar mais, a toda hora, indiscriminadamente. Hoje quando leio uma partitura de Stravinsky ainda mais sinto uma vontade irreprimível de estar com o povo, embora a cultura jogada fora volte pelas janelas – estou roubando C.D.A.

– Talvez porque nós todos sejamos parte de uma geração quem sabe se fracassada?

– Não concordo absolutamente.

– É que sinto que nós chegamos ao limiar de portas que estavam abertas - e por medo ou pelo que não sei, não atravessamos plenamente essas portas. Que, no entanto, têm nelas já gravado o nosso nome. Cada pessoa tem uma porta com seu nome gravado, Tom, e é só através dela que essa pessoa perdida pode entrar e se achar.

– Batei e abrir-se-vos-á.

– Vou confessar a você, Tom, sem o menor vestígio de mentira: sinto que se eu tivesse tido coragem mesmo, eu já teria atravessado a minha porta, e sem medo de que me chamassem de louca. Porque existe uma nova linguagem, tanto a musical quanto a escrita, e nós dois seríamos os legítimos representantes das portas estreitas que nos pertencem. Em resumo e sem vaidade: estou simplesmente dizendo que nós dois temos uma vocação a cumprir. Como se processa em você a elaboração musical que termina em criação?
Estou simplesmente misturando tudo mas não é culpa minha, Tom, nem sua: é que nossa conversa está meio psicodélica.

– A criação musical em mim é compulsória. Os anseios de liberdade nela se manifestam.

– Liberdade interna ou externa?

– A liberdade total. Se como homem fui um pequeno-burguês adaptado, como artista me vinguei nas amplidões do amor. Você desculpe, eu não quero mais uísque por causa de minha voracidade, tenho é que beber cerveja porque ela locupleta os grandes vazios da alma. Ou pelo menos impede a embriaguez súbita. Gosto de beber só de vez em quando. Gosto de tomar uma cerveja, mas de estar bêbado não gosto.

Foi devidamente providenciada a ida da empregada para comprar cerveja.

– Tom, toda pessoa muito conhecida, como você, é no fundo o grande desconhecido. Qual é a sua face oculta?

– A música. O ambiente era competitivo, e eu teria que matar meu colega e meu irmão para sobreviver. O espetáculo do mundo me soou falso. O piano no quarto escuro me oferecia uma possibilidade de harmonia infinita. Esta é a minha face oculta. A minha fuga, a minha timidez me levaram inadvertidamente, contra a minha vontade, aos holofotes do Carnegie Hall. Sempre fugi do sucesso, Clarice, como o diabo foge da cruz. Sempre quis ser aquele que não vai ao palco. O piano me oferecia, de volta da praia, um mundo insuspeitado, de ampla liberdade - as notas eram todas disponíveis e eu antevi que se abriam os caminhos, que tudo era lícito, e que poderia ir a qualquer lugar desde que fosse inteiro. Sùbitamente, sabe, aquilo que se oferece a um menor púbere, o grande sonho de amor estava lá e este sonho tão inseguro era seguro, não é Clarice? Sabe que a flor não sabe que é flor ? Eu me perdi e me ganhei, enquanto isso sonhava pela fechadura com os seios de minha empregada. Eram lindos os seios dela através do buraco da fechadura.

– Tom, você seria capaz de improvisar um poema que servisse de letra para uma canção?

Ele assentiu e, depois de uma pequena pausa, me ditou o que se segue:

Teus olhos verdes são maiores que o mar.
Se um dia eu fosse tão forte quanto você eu te desprezaria e viveria no espaço.
Ou talvez então eu te amasse.
Ai! que saudades me dá da vida que nunca tive!

– Como é que você sente que vai nascer uma canção?

– As dores do parto são terríveis. Bater com a cabeça na parede, angústia, o desnecessário do necessário, são os sintomas de uma nova música nascendo. Eu gosto mais de uma música quanto menos mexo nela. Qualquer resquício de savoir-faire me apavora.

– Gauguin, que não é meu predileto, disse uma coisa que não se deve esquecer, por mais dor que ela nos traga. É o seguinte: "Quando tua mão direita estiver hábil, pinta com a esquerda; quando a esquerda ficar hábil, pinta com os pés". Isso responde ao seu terror do savoir-faire?

– Para mim a habilidade é muito útil, mas em última instância a habilidade é inútil. Só a criação satisfaz. Verdade ou mentira, eu prefiro uma forma torta que diga, do que uma forma hábil que não diga.

– Você é quem escolhe os intérpretes e os colaboradores?

– Quando posso escolher intérpretes, escolho. Mas a vida veio muito depressa. Gosto de colaborar com quem eu amo, Vinícius, Chico Buarque, João Gilberto, Newton Mendonça, etc. E você?

– Faz parte de minha profissão estar mesmo sempre sozinha, sem intérpretes e sem colaboradores. Escute, todas as vezes em que eu acabei de escrever um livro ou um conto, pensei com desespero e com toda a certeza de que nunca mais escreveria nada. Você, que sensação tem quando acaba de dar à luz uma canção?

– Exatamente a mesma. Eu sempre penso que morri depois das dores do parto.

Veio a cerveja.

– A coisa mais importante do mundo é o amor, a coisa mais importante para a pessoa como indivíduo é a integridade da alma, mesmo que no exterior ela pareça suja. Quando ela diz que sim, é sim, quando ela diz que não, é não. E durma-se com um barulho desses. Apesar de todos os santos, apesar de todos os dólares. Quanto ao que é o amor, amor é se dar, se dar, se dar. Dar-se não de acordo com o seu eu - muita gente pensa que está se dando e não está dando nada - mas de acordo com o eu do ente amado. Quem não se dá, a si próprio detesta, e a si próprio se castra. Amor sozinho é besteira.

– Houve algum momento decisivo na sua vida?

– Só houve momentos decisivos na minha vida. Inclusive ter de ir, aos 36 anos, aos Estados Unidos, por força do Itamarati, eu que gostava já nessa época de pijama listrado, cadeira de balanço de vime, e o céu azul com nuvens esparsas.

– Muitas vezes, nas criações em qualquer domínio, podem-se notar tese, antítese e síntese. Você sente isso nas suas canções? Pense.

– Sinto demais isso. Sou um matemático amoroso, carente de amor e de matemática. Sem forma não há nada. Mesmo no caótico há forma.

– Quais foram as grandes emoções de sua vida como compositor e na sua vida pessoal?

– Como compositor nenhuma. Na minha vida pessoal, a descoberta do eu e do não-eu.

– Qual é o tipo de música brasileira que faz sucesso no exterior?

– Todos os tipos. O Velho Mundo, Europa e Estados Unidos estão completamente exauridos de temas, de força, de virilidade. O Brasil, apesar de tudo, é um país de alma extremamente livre. Ele conduz à criação, ele é conivente com os grandes estados da alma.

Fotomontagem: betty
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John Lennon, quanta saudade!

08 dezembro, 2010
Trinta anos depois, ainda sentimos sua falta...
Lendas não morrem.


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Pátria minha - Vinicius de Moraes

07 setembro, 2010


A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."
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Quem quiser, vem comigo...

27 agosto, 2010
Descobri Fiorella Mannoia em 2006, quando gravou o álbum Onda Tropicale, cantando músicas de compositores brasileiros: Milton Nascimento, Chico, Buarque, Lenine, Gilberto Gil, Adriana Calcanhotto, Jorge Benjor, entre outros. Voz quase grave, interpretação altiva e comovente, olhos de um azul indescritível, ela me ganhou imediatamente.

Fiorella gravou também um clássico de Francesco de Gregori, La Storia, do álbum Scacchi e Tarocchi (1985), uma das músicas mais emocionantes que conheço, especialmente pela letra desse gênio que é considerado na Itália O Príncipe dos Poetas.

Sei que algumas pessoas não curtem postagens de vídeos – sequer assistem, por considerarem "falta de assunto". Eu penso de modo diferente. Nunca me propus a ter um blog de grande popularidade, e sim um espaço onde possa registrar o que tem relevância para mim, principalmente manifestações artísticas. O mundo já está pesado e triste o suficiente, e é através da arte que eu saio desse clima ruim.
Não sou artista, meu lugar é na plateia, onde sempre estarei aplaudindo.



La storia siamo noi
Nessuno si senta offeso
Siamo noi questo prato di aghi sotto il cielo
La storia siamo noi
Attenzione, nessuno si senta escluso
La storia siamo noi
Siamo noi queste onde nel mare
Questo rumore che rompe il silenzio, questo silenzio così duro da masticare
E poi ti dicono "Tutti sono uguali, tutti rubano alla stessa maniera"
Ma è solo un modo per convincerti a restare chiuso dentro casa quando viene la sera
Però la storia non si ferma davvero davanti a un portone
La storia entra dentro le stanze, le brucia, la storia dà torto e dà ragione
La storia siamo noi
Siamo noi che scriviamo le lettere
Siamo noi che abbiamo tutto da vincere, tutto da perdere
E poi la gente (perchè è la gente che fa la storia)
Quando si tratta di scegliere e di andare
Te la ritrovi tutta con gli occhi aperti che sanno benissimo cosa fare
Quelli che hanno letto milioni di libri e quelli che non sanno nemmeno parlare
Ed è per questo che la storia dà i brividi, perchè nessuno la può fermare
La storia siamo noi
Siamo noi padri e figli, siamo noi, bella ciao, che partiamo
La storia non ha nascondigli, la storia non passa la mano
La storia siamo noi
Siamo noi questo piatto di grano


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Enquanto tudo continua igual...

22 agosto, 2010
Domingo, dia de relaxar num passeio ao ar livre, ou em casa lendo, ouvindo música, assistindo aquele filme que está na fila esperando faz tempo, se possível em boa companhia. Teremos sol, finalmente, diz a meteorologia.



Lembrei de domingos distantes, tempos descompromissados de juventude, do rir à toa, de ir ao Pão de Açúcar depois da praia ver o Sol se pôr, apenas pelo prazer de estar ali. Às vezes subir a serra para passear em Petrópolis, ou no Parque da Serra dos Órgãos, em Teresópolis. Uma delícia! As noites eram tranquilas, sem bailes funk, sem pancadão, no máximo o som de um violão. Andava-se muito a pé, sem sobressaltos; quando de carro, sem engarrafamentos nem insulfilme. Tão diferente dos domingos de agora...

Quem vive no Rio brinca de imaginar que nada está fora do lugar, que a violência é um exagero da mídia alarmista, que a cidade não oferece riscos, que se pode apreciar seus encantos na certeza de voltar para casa incólume. Talvez seja um mecanismo inconsciente capaz de manter a sanidade mental diante de uma guerra urbana que parece não ter fim.



Ontem foi mais um dia tenso, tiroteio com armas pesadas, granadas explodindo, pânico, tristeza, muita tristeza. Aconteceu em São Conrado, bairro de classe média alta, condomínios caríssimos, aos pés da favela da Rocinha. A cidade é assim, ondulada faixa de terra entre montanha e mar, tão bonita que se sobrepõe ao horror de suas entranhas.



O governo criou as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) que ocupam favelas expulsando os traficantes, mas esqueceu de planejar como cuidar do efeito colateral mais importante desse projeto. O que fazem os bandidos sem o dinheiro do tráfico? Claro, vêm para o asfalto roubar. Antigamente se dizia que isso é cobrir um santo descobrindo outro.



A ideia das UPPs é boa, porém existem muitas consequências que requerem máxima atenção das autoridades competentes. Não me refiro apenas ao destino dos traficantes, mas também à valorização dos imóveis nas comunidades pacificadas, muitos de alvenaria, em verticalização acelerada, comercializados por preços inimagináveis, principalmente pela proximidade com os bairros, facilitando acesso ao trabalho, e pela paisagem privilegiada. Ter um imóvel na favela começa a ser um negócio rentável, cuja expansão será inevitável caso não sejam adotadas medidas urgentes.

O assunto é bem mais complexo do que se pode imaginar, requer estudo sério, nada de soluções improvisadas, e sim trabalho árduo feito por gente competente. Caso contrário, a cidade irá sucumbir em breve.

Enquanto tudo continua igual, o jeito é fingir que reina a mais perfeita paz, que podemos aproveitar o domingo e, logo mais, estaremos vivos em casa.
Que assim seja!
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Valorizar o pior, nunca!

21 agosto, 2010
Praticamente, dois meses sem atualizar o blog. Motivos, variados, porém o mais relevante foi o que chamo de bomba de efeito retardado.

Durante todo o mês de julho me dediquei ao meu gatinho, Peteleco, companheiro de 16 anos, amigo fiel, dócil, manhoso, de tanto que é mimado, e que por um triz não se foi. As opções de tratamento não eram animadoras devido à idade avançada. Cheguei a medicar por orientação de uma veterinária, mas o remédio afetava severamente o sistema neurológico, a ponto dele ficar agressivo, sem contar que o problema digestivo em nada melhorava.
Numa madrugada, em que pensei que ele não amanheceria, decidi suspender o remédio e deixar que a natureza seguisse seu curso, como penso que deva ser até para nós humanos. Qual o sentido de deixá-lo em uma clínica, sozinho numa jaula fria, lugar desconhecido, sem aconchego, sem carinho, até a hora final? Se fosse para morrer, que ele estivesse entre as pessoas que o amam. Decisão absurda para certas pessoas, não para mim.
Como ele já não aceitava se alimentar, e quase nenhuma água bebia, por minha conta, preparei soro caseiro e, com uma pequena seringa ia dando aos poucos. Comecei com doses de 5ml de hora em hora, depois espacei para duas em duas, e assim foi, espaçando mais à medida que percebia que ele ia se animando. Em três dias ele estava caminhando, voltou a se alimentar, ainda que pouco, mas era uma festa para mim. A alegria de ver seus olhos azuis brilhando novamente me devolveu a esperança de que ele ficaria bom. Hoje ele está bem, velhinho, rabugento e um tanto caduco, no entanto tem momentos em que dá umas corridinhas, ensaia brincadeiras, me fazendo lembrar de quando era pequeno.

Depois desse estresse peguei uma gripe, não uma simples gripe, uma daquelas que derruba a gente de tal forma que parece que não vai passar nunca. Como se não bastasse, veio uma grave crise alérgica, com direito à dermatite e urticária, só amenizada com altas doses de corticóide. Os antialérgicos de segunda geração, que não provocam sonolência, não surtiam efeito, precisei tomar os tradicionais, que me deixavam quase um zumbi. Nunca dormi tanto em toda a vida. Meus dias não rendiam, fui ficando angustiada porque não sou de ficar de molho, ao contrário, sou bem ativa, do tipo que não costuma se cansar à toa. Durante esse período difícil, algumas vezes liguei o computador para ler os emails, respondi alguns, li posts que me chamaram a atenção no Google Reader, lamentando a falta de disposição para comentar, visto que havia muita coisa boa.

Bem, por hoje é isso. Peço aos amigos que desculpem pelo sumiço forçado, e vamos em frente, que eu gosto é de sorrir e ser feliz. Afinal, cada fase ruim ultrapassada é motivo de orgulho, de superação, não deve ser valorizada no pior.
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Ode ao gato - Artur da Távola

29 junho, 2010
Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso.

Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.

O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis.

Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu. Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado? Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?

Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.

"Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige.

Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.

O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta. Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali". Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.

O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.

Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas. O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!

Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo (quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.

O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.

Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com
dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio. Lição de descanso. Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.

Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade. Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.

O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem.
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Mario Quintana - Hoje faz 16 anos que ele está no céu dos poetas

05 maio, 2010


Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Imagem: Pablo Picasso
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Crônicast 001 - Se não escrevo, não vivo!

22 abril, 2010
Acabei de ouvir o "Crônicast 001 - Se não escrevo, não vivo!", criado pelo Brunno Soares em comemoração aos dois anos do seu blog Crônicas de Afeto. É tão lindo, tão delicado, tão intenso que, ao final, nos deixa aquele gostinho de quero mais.

Aos que quiserem ouvir, recomendo que não estejam com pressa, que se recostem bem confortáveis, que fechem os olhos e mergulhem nesse universo de beleza.


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Crônicas de Afeto - 2 anos!

19 abril, 2010

Ao amigo Brunno pelos dois anos do seu blog Crônicas de Afeto.

Parabéns!



Faz tanto tempo...

houve um dia
tudo era sorriso e fantasia
brincavam de abraçar o vento
e de parar as horas
pensando que a vida lhes pertencia

houve um dia
tudo era carinho e alegria
amavam um ao outro
e a todas as coisas
acreditando que o futuro existia

houve um dia
tudo era escuro à luz do dia
distanciados
não mais se reconheciam
era só silêncio e bruma fria

- betty -
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Letra: Ferida Exposta ao Tempo

12 abril, 2010


É forçoso dizer que me faz falta
o poema que existe e nunca li,
como se alhures
brotassem coisas que não vi
e que distantes,
carentes,
dependessem de mim.
Algo como se o intocado fosse a sinfonia
inacabada, mais: rasgada
como o quadro nunca esboçado, perdido
na abatida mão do artista.

O ausente
é uma planta
que na distância se arvora
e é tão presente
quando o passado que aflora.

E a literatura, mais que avenida ou praça
por onde cavalga a glória, é um monumento,
sim, de dúbia estória: granito e rima,
alegoria ao vento, lugar onde carentes
e arrogantes
cravamos nosso nome de turista:
- estive aqui, desamado,
riscando a pedra e o tempo
expondo meu sangue e nome
com o coração trespassado.

- Affonso Romano de Sant'Anna -


Imagem: Patricia Quintero
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Pode não ser, mas Maria Luisa parece pau-mandado

10 abril, 2010
Passados quase quatro meses que escrevi sobre o caso Sean, recebi a notificação de um comentário no post. A pessoa comentou duas vezes com texto absolutamente igual, uma vez como anônima e outra como Maria Luisa, sem nenhum link que comprovasse a identificação. Na impossibilidade de responder diretamente, embora saiba o IP e a cidade de origem, decidi por uma resposta com outro post, até porque essa pessoa tem estado aqui no blog com frequência, conforme verificado pelo Tracy MyIP e pelo Sitemeter.

Achei curioso que alguém tenha voltado ao assunto justo na semana subsequente ao retorno da Sra. Silvana Bianchi dos EUA, quando mais uma vez ela apareceu na mídia lamentando não ter sido autorizada a estar com o neto. Abatida pelo revés, ela ainda conserva um quê de arrogância nas declarações que deu, demonstrando claramente o quanto despreza o ex-genro.

Tenho por norma não deletar comentários, nem os modero, mesmo os que não sejam educados. Nesse caso, vou copiar aqui para que ela possa ler minhas respostas (destacadas em verde).

"Interessante, Betty.

Vc por acaso foi atrás de saber quem é o pai do menino? Como você pode engolir de bom grado a história lacrimosa dele e não questionar uma única vez o fato de que ele, sem profissão, sem emprego (antes mesmo da Bruna Bianchi sair dos EUA ele já era desempregado por opção! Ele era sustentado pela mulher!!), não poderia mudar-se para o RJ, uma vez que era lá que o filho morava e estava frequentando a escola?"


A Sra. Silvana declarou numa entrevista que David esteve doente durante um longo período. Portanto, estar desempregado e ser sustentado pela mulher não me parece nenhum absurdo nessa situação, visto que um casamento é para as horas boas e também para as difíceis. Disse mais, que a Bruna não estava acostumada às dificuldades pelas quais vinha passando, que o encanto dos primeiros tempos havia acabado, e queria se separar dele.

Se esses motivos são mais que suficientes para explicar a separação, nem por isso se prestam para justificar a irresponsabilidade da fuga de Bruna. A questão discutida é o fato de ter afastado pai e filho através de uma mentira.

Quanto a mudar-se para o Rio, "onde o filho morava e estava freqüentando a escola"... Eis aqui o absurdo. O Sean não morava no Rio, ou aqui frequentava escola com o consentimento do pai, mas sim em razão da mãe tê-lo trazido à revelia dele. Se era tão simples assim, fazer David mudar de país para viver perto do filho, não seria o caso também de dizer que ela poderia ter se separado e continuar vivendo nos EUA?

E o que você diz do padrasto requerer não apenas a guarda do menino, mas registrá-lo como filho? Lembre que a ninguém é dado o direito de usurpar a identidade do outro. Gostem ou não os familiares de Bruna, Sean tem um pai, tem avós paternos, tios, primos, e é cidadão americano. Fica a impressão que os daqui se acham superiores, mais importantes, por isso com mais direitos.


"A Bruna - e ele confirma, então não é invenção de ninguém, além do Sean, é o dos poucos pontos em comum nos dois lados da história - mandou passagem de ida e volta para ele vir visitar o menino e acertar o divórcio de forma amigável (para não partir, como tiveram que partir para o divórcio Litigioso). Então, ela não queria briga, NÃO QUERIA AFASTAR PAI DE FILHO! Ele que se afastou pq queria ferrar com a vida de todo mundo, afinal, ele PERDEU: ele perdeu mulher que o sustentava, ele perdeu pra ela pois está parecendo que ele é quem queria tomar o filho dela; o cara ficou despeitado, queria grana e para extorquir a família (RICA SIM, E DAÍ? "NÃO INVEJE, TRABALHE!", como diz um ditado popular) da Bruna, ele criou um caso de Sequestro internacional de crianças. Principalmente e sobretudo no caso do Sean, é o ÚNICO sequestro no mundo em que o familiar da vítima tem
1) o endereço, os telefones, os e-mails dos sequestradores;
2) podia livremente pedir passagem aérea e estadia para visitar a vítima do sequestro;
3) tinha, na hora em que quisesse, livre acesso a vitima."


Agora, sim, Maria Luisa (será esse o seu nome?), você extrapolou totalmente os limites do bom senso. Divórcio amigável? Você sabe o que significa "divórcio consensual"? Onde estaria o consenso? Seria numa atitude passiva por parte do pai diante da covardia com que lhe tiraram o filho?

Outra coisa, o sequestro a que se refere deve ser aquele tipificado no código penal, quando através dele o criminoso pretende receber algo em troca. No caso em questão o sequestro é de outra natureza, é previsto no Direito Internacional – Convenção de Haia, de 1980.


"Ah, faz favor! Vamos parar com essa INVEJA, com essa mediocridade, com esse machismo brasileiro! O populacho está escrachando e difamando uma mulher BRASILEIRA e toda a sua família por que ela é mulher, é rica, a filha dela, já falecida fez o que toda BOA MÃE deve fazer - afastar de um meio insalutar o filho que está vendo que o vulgo bom papai não é flor que se cheire, é vagabundo, é manipulador (ele foi puxar saco do mais visceral anti Obama que existe, o Chris Smith do Partido Republicano não é a toa! Ele sabe bem quem é o Smith e o peso do mentiroso patológico profissional na política do país dele!) e tem mais do que tendências a vigarice."

Enfim, você mostrou a que veio! Sem argumentos consistentes para rebater meu ponto de vista, parte para a agressão gratuita, preconceituosa e elitista. Ou o que significa a "inveja" do "populacho" contra uma "mulher rica"?

"Vocês só não sabem a história da Bruna por que ela já morreu. Pois, em outras condições, tenho certeza, ela teria aberto a caixinha de ferramentas dela e mostrado bem quem é o "tão admirado papai" que ela, infelizmente, arranjou para o Sean e manteve contato por longos e torturantes 5 anos da vida dela.

A Familia Brasileira É inocente, não cometeu nenhum sequestro e por conta desse "admirável pai" (todo mundo ainda vai ouvir ou ler pelo Sean a verdadeira história de David Goldman, podem ficar tranquilinhos! É liquido e certo!), ainda haverá mais tragédia na vida da D. Silvana."


Saber ou não a história de Bruna não vem ao caso, até porque para a mesma história existem várias versões, conforme a conveniência de quem relata. O fato é que um dia ela se casou com David e tiveram um filho, Sean, e relações familiares são regidas por leis que devem ser respeitadas. Ninguém contesta a Bruna por ter desejado a separação, era direito dela, mas sim pela maneira covarde como agiu. Mentiu ao dizer ao David que passaria 15 dias no Brasil quando já estava decidida a não retornar aos EUA, conseguindo assim a autorização dele para Sean acompanhá-la. Todos os demais detalhes não interessam a ninguém.

Antes que me esqueça, quanto a "mulher rica" está lhe pagando para pesquisar na Internet as publicações favoráveis ao David e rebatê-las de maneira tão contundente?
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Ayrton Senna do Brasil

21 março, 2010


Hoje ele estaria fazendo 50 anos.

Seu talento era excepcional.

Na Fórmula 1, foram 41 vitórias, 65 pole positions e 3 campeonatos mundiais.

Nunca mais a alegria daqueles domingos.

Saudade.
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Johnny Alf - A luz eterna

05 março, 2010
Não foi uma Ilusão a toa, ele era mesmo Um rapaz de bem, e estamos aqui, Nós, Eu e a brisa, Céu e mar, depois de termos aprendido O que é amar, com Um gosto de fim... Estamos sós... e é muito Triste...

Alfredo José da Silva, Johnny Alf, ou Genialf, como Tom Jobim o chamava, se transmutou em poeira cósmica, está agora entre as estrelas.

Até qualquer hora Genialf.


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Parabéns Grace!

27 fevereiro, 2010


Muitas e muitas alegrias na sua vida.

Saúde também, para poder realizar seus sonhos.

Flores, que perfumem seu caminho.

Música, para embalar seus sonhos.

Amor, que aqueça seu coração.
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Devia morrer-se de outra maneira - José Gomes Ferreira

21 janeiro, 2010


Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos...)
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pólen...
como aquela nuvem além (veem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

Imagem: Mehmet Ozgur
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Um poema de Miguel Torga

17 janeiro, 2010
O meu perfil é duro, como o perfil do mundo
Quem adivinha nele a graça da poesia?



Há 15 anos morria em Coimbra o grande escritor português Miguel Torga, cujo nome de nascimento era Adolfo Correia da Rocha. Foi um homem de temperamento complexo, pouco sociável, cuja obra reflete as apreensões, esperanças e angústias do seu tempo.

Não passarão

Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!
Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.
Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na tua tragédia se redime.
Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!
Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:
Não passarão!

Imagem: betty
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