Amanhecer cinzento

28 maio, 2007
Madrugada se foi e deixou em seu lugar um amanhecer cinzento. Morros que avisto daqui estão encobertos por densa neblina, dando ar de mistério ao dia que começa.
O que me aguarda em mais essa jornada? Será um dia igual a tantos outros? O mesmo tédio, ou será diferente?
Quem sabe, quem sabe...

Tenho estado cansada, tanto que o sono anda me vencendo nas horas mais insólitas, e o mais surpreendente é que quanto mais durmo mais quero dormir. É uma sensação estranha para mim. Nuca tive insônia, nem sei como é, apenas me satisfaço com poucas horas de sono, no máximo cinco horas. Estou confusa com esse sono insaciável, pois mesmo que durma por seis, oito horas, ainda sinto vontade de dormir mais.

Ah, se eu fosse um poeta, saberia transformar esse momento em beleza me consolando em versos! Amo a alma louca dos poetas, amo os poemas lúcidos que nascem dessa loucura! Como não sou, recorro a eles sempre que meus sentimentos querem aflorar, principalmente a Fernando Pessoa, meu preferido, aquele que por ser tão grande não cabia num só: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares...

Estou Cansado
Álvaro de Campos


Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
Do que estou cansado, não sei.
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto -
Uma vontade de sono no corpo,
Uma vontade de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Imagem: betty
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Melancolia

24 maio, 2007
Melancolia - sentimento de vaga e doce tristeza que compraz e favorece o devaneio e a meditação.
(def. Houaiss)

À medida que os anos passam vamos acumulando saudades. Pessoas que amamos saem de nossas vidas, muitas vezes sem tempo de dizer adeus, deixando um espaço que não pode mais ser preenchido, e passam a viver na forma etérea de nossas lembranças. Enquanto uns partem outros chegam, de repente ou de mansinho, para ocupar novo espaço que também será único, insubstituível.

A cada ano a contagem regressiva da vida vai se aproximando da hora final, e essa idéia me deixa triste. Não que eu tenha medo de morrer, acho que nem tenho, mas sinto uma tristeza enorme de saber que um dia vou morrer.

Como disse Vinícius de Moraes: "Não tenho medo da morte. Tenho saudade da vida."

É exatamente isso o que eu sinto. Pensar que não mais verei as pessoas que amo, que elas seguirão sem mim, assim como eu sigo sem os que já partiram. Saber que não acompanharei o desenrolar da história, e nunca saberei no que vai dar. Não poder mais olhar para o céu, não ver o luar, não sentir o calor do Sol, não me encantar com os tons infindos do verde, não ouvir os sons da natureza, não ler os livros que serão escritos, não ouvir as músicas que gosto, nem as que ainda serão compostas.
A morte é o somatório de muitos nãos.

Não há como alterar o curso da vida. Chegará o dia em que partirei também, deixando vazio meu espaço, para habitar uma dimensão diversa daqui, da qual nada sei. Deve ser lá, em algum lugar entre as estrelas...

Encontros e Despedidas
Milton Nascimento & Fernando Brant


Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida

Imagem: JackTerry
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A chuva e o livro

20 maio, 2007
Depois de uma semana de calor e muito trabalho, finalmente um pouco de tranqüilidade. O tempo mudou radicalmente no final da tarde de ontem. O céu nublado há vários dias se desfez em chuva, a temperatura caiu bastante, faz um friozinho gostoso. Lá fora, silêncio e calma.

Recebi convite do amigo Chawca para participar de um meme sobre o que estou lendo. Na verdade, estou relendo, coisa que costumo fazer regularmente, porque é incrível o quanto se acrescenta numa releitura; são visões diferentes e mais profundas a cada vez. O livro é Perdas & Ganhos, de Lya Luft.

Conforme palavras da própria autora, uma espécie de diálogo que ela mantém com o leitor, um chamado para que venha pensar com ela sobre a passagem do tempo e como lidamos com ele vida afora. A escrita é direta e, sobretudo, contundente.
Há também alguns de seus poemas permeando os capítulos.

Foram-se os amores que tive
ou me tiveram:
partiram
num cortejo silencioso e iluminado.
O tempo me ensinou
a não acreditar demais na morte
nem desistir da vida: cultivo
alegrias num jardim
onde estamos eu, os sonhos idos,
os velhos amores e seus segredos.
E a esperança - que rebrilha
como pedrinhas de cor entre as raízes.
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Profecia dos filhos - Gibran Khalil Gibran

13 maio, 2007


Vossos Filhos, não são vossos filhos
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Eles vêm através de vós, mas não em vós,
e embora vivam convosco, não vos pertencem...

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos.
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
pois suas almas moram na mansão do amanhã,
que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.

Podeis esforçar-vos por ser como eles,
mas não por fazê-los como vós.
Por que a vida não anda para trás e
não se demora com os dias passados.

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos
são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito
e vos estica com toda sua força para
que suas flechas se projetem rápidas e para longe.

Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria.
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
também ama o arco que permanece estável.
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Flamengo - 2007

06 maio, 2007
2007 - CAMPEÃO CARIOCA - 2007


Imagem: betty
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