Madrugada se foi e deixou em seu lugar um amanhecer cinzento. Morros que avisto daqui estão encobertos por densa neblina, dando ar de mistério ao dia que começa.
O que me aguarda em mais essa jornada? Será um dia igual a tantos outros? O mesmo tédio, ou será diferente?
Quem sabe, quem sabe...
Tenho estado cansada, tanto que o sono anda me vencendo nas horas mais insólitas, e o mais surpreendente é que quanto mais durmo mais quero dormir. É uma sensação estranha para mim. Nuca tive insônia, nem sei como é, apenas me satisfaço com poucas horas de sono, no máximo cinco horas. Estou confusa com esse sono insaciável, pois mesmo que durma por seis, oito horas, ainda sinto vontade de dormir mais.
Ah, se eu fosse um poeta, saberia transformar esse momento em beleza me consolando em versos! Amo a alma louca dos poetas, amo os poemas lúcidos que nascem dessa loucura! Como não sou, recorro a eles sempre que meus sentimentos querem aflorar, principalmente a Fernando Pessoa, meu preferido, aquele que por ser tão grande não cabia num só: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares...
Estou Cansado
Álvaro de Campos
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
Do que estou cansado, não sei.
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto -
Uma vontade de sono no corpo,
Uma vontade de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Imagem: betty
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O que me aguarda em mais essa jornada? Será um dia igual a tantos outros? O mesmo tédio, ou será diferente?
Quem sabe, quem sabe...
Tenho estado cansada, tanto que o sono anda me vencendo nas horas mais insólitas, e o mais surpreendente é que quanto mais durmo mais quero dormir. É uma sensação estranha para mim. Nuca tive insônia, nem sei como é, apenas me satisfaço com poucas horas de sono, no máximo cinco horas. Estou confusa com esse sono insaciável, pois mesmo que durma por seis, oito horas, ainda sinto vontade de dormir mais.
Ah, se eu fosse um poeta, saberia transformar esse momento em beleza me consolando em versos! Amo a alma louca dos poetas, amo os poemas lúcidos que nascem dessa loucura! Como não sou, recorro a eles sempre que meus sentimentos querem aflorar, principalmente a Fernando Pessoa, meu preferido, aquele que por ser tão grande não cabia num só: Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares...
Álvaro de Campos
Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
Do que estou cansado, não sei.
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto -
Uma vontade de sono no corpo,
Uma vontade de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Imagem: betty