Sobre amizade e amigos

23 dezembro, 2008
Dizem ser a vida o bem mais precioso, e precioso é, porém não mais que o amigo, se equivalem.

De que vale a vida sem a mão do amigo, sem as palavras do amigo, sem o olhar e, às vezes, o silêncio respeitoso do amigo? De que vale a vida sem o amigo?

Conheço muita gente, sou sociável, do tipo que cumprimenta o vizinho no elevador, e continua cumprimentando mesmo que ele não tenha respondido na primeira vez, uso sempre "por favor" e "obrigada". Gosto de boa conversa, falo baixo, não sou de gargalhadas, mas o sorriso não dispenso. Procuro os amigos apenas para saber como vão indo, independentemente de qualquer outra coisa, ligo também nos aniversários e datas específicas que sejam importantes para cada um, me alegro com suas conquistas e choro com eles quando estão tristes. Pareço muito boazinha, não é mesmo? Pois não sou, não. Quando me decepciono com alguém não tem volta, sem brigas ou discussões, simplesmente me afasto. Tenho a tal paciência de Jó, relevo, relevo mil vezes antes da saturação; então é ponto final. Quero distância de quem seja mesquinho, egoísta, falso, interesseiro, fútil, sem falar nos verdadeiramente perigosos.

Amizade implica afeto, conhecimento do outro e cumplicidade. Quando essas coisas não existem na relação, fica tudo no superficial, é apenas sociabilidade e cortesia.

Amigo é palavra sagrada, gravada com doçura no coração de quem ama e é amado. Amigo pra valer é o que sempre está, seja no fluxo ou no refluxo da maré. Amigo é o que nos afaga quando estamos tristes, mas é também o que nos repreende quando estamos fora de rumo. Amigo é o que se alegra com nossas conquistas e nos aplaude com sinceridade e entusiasmo. Amigo é o que ri junto, é o que faz brincadeira e se faz de criança só para nos alegrar. Amigo não tem ciúme quando chega um novo amigo, ao contrário, quer logo somar.

Amigos são para sempre, mesmo que a morte os separe. São almas ligadas eternamente, e numa nova dimensão um dia voltarão a se encontrar…

Imagem: Pierre-Auguste Renoir



Amados: Margarete  –  Marcus  –  Eric  –  Cristina  –  Margot  –  Sonia  –  Celso  –  Libia  –  Gomes  –  Rita  –  Mauro  –  Thereza  –  Conceição

Amigos virtuais que já têm lugar no meu coração: Luci  –  Odele  –  Bill  –  Regina  –  Maristela – Saramar  –  Grace  –  Regina  –  Fernando  –  Elisabete  – Yvonne  –  Leticia  –  Beto  –  Cristiane

Amados que habitam algum lugar entre as estrelas: Rubem  –  Aglaia  –  Cenira  –  Julio  –  Gilda  –  José  –  Tommaso   –  Elenice  –  Renato
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Ah, esse mar!

13 dezembro, 2008


Ah, esse mar!
Quantas vezes precisarei cruzá-lo
até te encontrar?
É lá onde estás
disfarçado no verde, misturado ao azul,
fazendo de conta
que não quer estar.

Ah, esse mar!
Calmarias, tormentas,
profundidades abissais.
Quantas vezes precisarei me afogar
até me encontrar?

- betty -
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Convite para uma coletânea

12 dezembro, 2008
É com prazer que convidamos aos interessados em publicar seus textos em livro a participarem de nossa primeira coletânea.
Existem várias possibilidades de publicação, mas acreditamos ter conseguido algo realmente bom, tanto em preço quanto em qualidade.

Nossa proposta é a seguinte:

1) A Coletânea contará com formato 14 x 21 cm, 100 páginas ( preto e branco ), fonte arial rounded, encadernado com hot melt p&b.

2) Cada autor contará com 4 páginas, sendo uma de apresentação (currículo) e 3 de texto, que podem ser poesia, conto, crônica; ou seja, qualquer texto que se deseje publicar. Fica a critério do autor a quantidade de textos, desde que se respeite o limite de 3 páginas.

3) Cada autor recebe 10 livros com ISBN e direitos autorais protegidos .

4) Diagramação, divulgação, arte da capa e correção ortográfica não serão cobrados a parte.

5) O principal: Cada livro será confeccionado ao custo de R$ 7,00, mais as despesas de correio. Como a participação em outras Coletâneas está em torno de R$ 12,00, justificamos assim que não haja "orelha" na capa e que o livro seja todo em p&b.

6) Interessados, por favor enviem seus dados e textos para pré-diagramação para o endereço:

virtualartescs@gmail.com.

Não esqueça de colocar nome completo, e-mail de contato e telefone.

7) Importante enviar os textos até o dia 15 de janeiro de 2009, para os livros chegarem para todos os autores antes do término do mês de janeiro.

http://scriptusest.blogspot.com/
http://virtualarte.wordpress.com/



A Luci me pediu para divulgar, e abracei a causa com entusiasmo porque boas idéias merecem ser apoiadas.
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Declaração Universal dos Direitos Humanos

10 dezembro, 2008
Porque nunca é demais lembrar.

ONU - 10 de dezembro de 1948
Preâmbulo


Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão;

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades humanas fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

Agora, portanto A ASSEMBLEIA GERAL proclama a presente DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo I
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo II
Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo III
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V
Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VI
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Artigo VII
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo VIII
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo IX
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo XI
. (1) Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
. (2) Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII
Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII
. (1) Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
. (2) Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV
. (1) Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.
. (2) Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV
. (1) Todo homem tem direito a uma nacionalidade.
. (2) Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo XVI
. (1) Homens e mulheres, maiores de idade, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.
. (2) O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.
. (3) A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo XVII
. (1) Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
. (2) Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.

Artigo XIX
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX
. (1) Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.
. (2) Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI
. (1) Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
. (2) Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
. (3) A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII
. (1) Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
. (2) Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.
. (3) Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
. (4) Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.

Artigo XXIV
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Artigo XXV
. (1) Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e à sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
. (2) A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.

Artigo XXVI
. (1) Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.
. (2) A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
. (3) Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo XXVII
. (1) Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.
. (2) Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XXVIII
Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIX
. (1) Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
. (2) No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
. (3) Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

Texto original em inglês: http://www.un.org/en/documents/udhr/
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Fernando Pessoa

30 novembro, 2008
Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre -
Esse rio sem fim.

Imagem: Fabian Perez
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Pelos animais vítimas das enchentes

26 novembro, 2008
Recebi um email da Maristela sobre a situação dos animais vítimas das chuvas que assolam Santa Catarina. Ela encaminhou o email de Ana Corina, do blog Mãe de Cachorro, pedindo ajuda para nossos amiguinhos abandonados à própria sorte, sem água, sem comida, sem remédios.

Por antecipação, faço minhas as palavras da Maristela no post Ajuda aos animais flagelados em Santa Catarina: "E que ninguém ouse me dizer que, numa hora dessas, eu penso em bicho em vez de pensar em gente."

É evidente ter que prestar solidariedade aos desabrigados, que precisam de toda a ajuda possível. Nem se discute tal coisa. No entanto, temos que pensar também na ajuda aos animais, que são muitos e sofrem com fome, sede, frio e medo, do mesmo jeito que os humanos.

Ana Corina, em seu apelo, diz o seguinte:

"Vamos nos mexer para ajudar também aos animais?

Aos poucos as iniciativas começam a aparecer. O maior problema é, sem dúvida, fazer chegar alimentos, cuidados e remédios aos animais necessitados. Além disso, também há a falta de locais apropriados para abrigá-los, mas se ao menos pudermos alimentá-los, já será uma boa ajuda.

Para quem ainda usa da mentalidade "mas e os humanos", tratar do animais não deixa de ser, entre outras coisas, inteligente, já que eles e seus corpos mortos podem vir a ser transmissores de doenças.

Você já pode:

- Começar a arrecadar ração, remédios e artigos para animais;
- Fazer contato com ONGs nacionais e internacionais pedindo ajuda para Santa Catarina;
- Arrumar postos de arrecadação de ração;
- Conversar com seus amigos e conhecidos para ver quem pode ajudar em ações diretas de ajuda aos animais;
- Conseguir apoio de veterinários, estabelecimentos comerciais, enfim, qualquer pessoa que possa contribuir com as ações que serão desencadeadas."




Peço aos amigos que divulguem o pedido da Ana Corina. Qualquer ajuda será bem-vinda.
Em nome dos amados animais, a nossa gratidão.
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Apenas uma remota esperança

02 novembro, 2008
Houve um dia em que eu fazia planos para um futuro que imaginava lindo. Esse dia já vai longe. Tanto vi e aprendi na minha jornada... sonhos, projetos, crenças, alegrias, tristezas, perdas, conquistas, decepções...

Penso nos que estão começando a viver, penso em meu filho, nos filhos de todos, e sinto uma tristeza imensa pelo que está por vir.

O mundo, cada vez mais, vai se tornando inóspito, as pessoas rumam para lugar nenhum. Há alguma coisa no ar que me assusta, não sei explicar, apenas sinto. A humanidade parece uma experiência malsucedida.

Não quero dizer que "no meu tempo era melhor", porque nem sei se era realmente; apenas as coisas da vida se definiam de maneira mais simples e éramos mais ingênuos. Hoje recebemos um volume de informação muito maior do que podemos reter, fator determinante da angústia e ansiedade que nos aflige. A vida acelerou tão de repente que nem tivemos tempo para aprender a lidar devidamente com as constantes mudanças em nosso cotidiano. Queremos tudo e temos nada, estamos vivendo na superficialidade, nos tornando "profundos conhecedores de coisa alguma".

Apesar de ter avançado tanto na ciência e na tecnologia, o ser humano ainda se encontra na adolescência do desenvolvimento emocional. Nossa evolução ainda não atingiu uma distância razoável do primitivismo atávico. Por isso existem as guerras e os conflitos interpessoais.

Há de haver uma saída. Esperança, ainda que remota, é só o que nos resta...
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Saudades de John Lennon

11 outubro, 2008
Falar sobre John Lennon sem cair no óbvio é quase impossível. Todos sabem que foi um dos integrantes dos Beatles, o mais rebelde, o mais polêmico dos quatro e, junto com Paul McCartney, compôs quase toda a obra da banda.

Lennon nasceu em 09 de outubro de 1940, faria agora 68 anos se naquela noite de 08 de dezembro de 1980 Mark David Chapman não o tivesse assassinado.

Adoro a obra dos Beatles, mas Lennon sempre foi meu preferido, especialmente no período pós Beatles - um homem melhor, direcionando seu talento e prestígio para a causa da paz. É desse Lennon que eu mais gosto, de quem lembro com saudade, o homem, não o ídolo, o homem que amava Yoko.

Eles se conheceram em 1966, em 1969 estavam casados, e em 1975 tiveram um filho, Sean. Ligaram-se a ativistas políticos que se manifestavam contra a guerra do Vietnã, contra o racismo e contra todo tipo de violência.

Sei bem o quanto Yoko é odiada pelos fãs dos Beatles que a responsabilizam pela separação do grupo. No entanto, creio, é hora de repensar a imagem que se faz dela, uma imagem detonada pela mídia. Se foi ou não a responsável pelas desavenças entre Lennon e McCartney, a mim parece irrelevante. Yoko, uma mulher sensível e inteligente, acima de tudo, foi a mulher que ele amou.

O próprio Lennon, em duas entrevistas, fez as seguintes declarações:

"Alguns jornalistas insinuaram, logo que começamos a viver juntos, eu e Yoko, que as divergências entre os Beatles aumentavam dia a dia, que muito em breve iríamos nos separar, e o exemplo disso eram alguns de nossos negócios em comum que foram desfeitos. Paul, George, Ringo e eu somos tão unidos quanto no começo dos Beatles como conjunto musical. Todos sabem que mudamos muito desde então, e todos devem saber também que temos consciência disso. Sabemos da influência do grupo em todos os jovens do mundo inteiro. Yoko nada tem a ver com nossas relações, que continuam inalteradas, fiquem tranquilos. Os Beatles existirão ainda por muito tempo, sob outras formas, diferentes de hoje, talvez, porque tudo evolui, mas eles nunca vão desaparecer. O que é importante a dizer, todos os homens, um é diferente do outro. Assim, se Paul é mais agnóstico, mais cínico na maneira de ver o mundo do que eu, isso não quer dizer que nunca mais nos falaremos. A vida mostrará quem tem razão.

Os Beatles existirão sempre como organização, e sabe porque? Pela possibilidade que teremos de fazer alguma coisa pela juventude, pela paz no mundo. Amanhã mesmo partiremos para Amsterdã onde participaremos de várias manifestações públicas pela paz no mundo. E eu e Yoko pensamos em continuar a participar desse movimento pela paz até que aqueles que pensam que somos dois farsantes vejam que nunca falamos mais sério em nossa vida. O que acontece é que todas as pessoas que agem contra o sistema, hoje em dia, correm o risco de ficarem tristes demais. Mas eu penso que esse tipo de luta não impede que sejamos alegres. Eu prefiro ser sempre o cara que chega numa festa e anima as pessoas tristes apenas com a presença".

(1970)


"Sim, ia ter que deixar um espaço em branco para cada um preencher com suas próprias palavras: escreva aqui aquilo em que não acredita. A letra estava ficando fora de controle e os Beatles foram o elemento final, porque não acredito mais em mitos e os Beatles são mais um mito. Eu não acredito naquilo.
O sonho acabou. Não estou falando só sobre os Beatles, estou falando de toda uma geração. Acabou e nós precisamos - eu pessoalmente preciso - aterrissar de volta à chamada realidade".

(entrevistado por Jann Wenner, da revista Rolling Stones - 1971 )



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Despedida... Paul Newman

28 setembro, 2008
Mais um extraordinário ator que parte. Morreu Paul Newman.

Pensei em escrever sobre sua morte, mas acabei decidindo por uma homenagem bonita, sem lamentos, como as emoções que seu talento me fez sentir. Escolhi, então, uma das cenas mais lindas do cinema, onde delicadeza e romantismo se fundem com perfeição. Inesquecível!

Paul, esteja em paz.


Raindrops keep falling on my head
Música de Burt Bacharach, na voz de B. J. Thomas

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Vinicius de Moraes - Ai, quem me dera...

23 setembro, 2008
Ai quem me dera, terminasse a espera
E retornasse o canto simples e sem fim...
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim

Ai quem me dera percorrer estrelas
Ter nascido anjo e ver brotar a flor
Ai quem me dera uma manhã feliz
Ai quem me dera uma estação de amor

Ah! Se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais

Ai quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afins
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim

Ai quem me dera ouvir o nunca mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E finda a espera ouvir na primavera
Alguém chamar por mim...

Imagem: Joan Miró
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Linguagem dos deuses

20 setembro, 2008
Os amigos que visitam o blog sabem o significado da música para mim. Não consigo lembrar de nenhum momento importante na minha vida, feliz ou triste, ao qual determinada música não esteja associada. O som das canções embalam também meus sonhos e me fazem seguir em frente para torná-los realidade.

Sou bem eclética a respeito de música, tanto que nem sei apontar gênero, compositor, banda, vocalista como "meu preferido". Isso depende do momento que esteja vivendo.
Há compositores magníficos, autores de músicas memoráveis, mas nem esses são sempre felizes numa criação. Outros, menos talentosos, por vezes, têm um "insight" e fazem uma obra-prima, apenas uma, são aqueles de um único sucesso. Claro que prefiro uns mais que outros, porém nada que se pareça com ser fã, na conotação comum da palavra. Sou fã da música, que na minha emoção considero a linguagem dos deuses, a linguagem universal.

Assim, se alguém que entre neste blog quiser me conhecer um pouquinho melhor, mesmo por mera curiosidade, basta conferir as músicas que costumo postar. Cada uma conta um pedacinho da minha história, revela minhas opiniões, meus sentimentos, meus sorrisos e minhas lágrimas.

Eu sou a Betty, muito prazer em conhecer você.
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Justiça para Flavia

15 setembro, 2008
Hoje, mais uma vez blogueiros se reúnem para clamar por justiça. Em janeiro de 1998, Flavia teve seus cabelos sugados pelo ralo da piscina do condomínio onde vivia com a mãe, Odele, e o irmão mais velho, Fernando. A menina, então com 10 anos, ficou submersa por vários minutos, teve parada cárdio-respiratória, jamais se recuperou, e vive em coma vigil até hoje, estado considerado irreversível pelos médicos que a tratam.

Odele processou os co-responsáveis por essa tragédia: JACUZI DO BRASIL, AGF BRASIL SEGUROS, CONDOMÍNIO JARDIM DA JURITI. A despeito das provas periciais constantes dos autos, que demonstram claramente a culpa de cada um dos réus, estes têm se valido de todos os recursos existentes em nossa legislação processual para escaparem de suas respectivas responsabildades.
Atualmente o processo encontra-se no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, aguardando a decisão, em última instância, do Ministro Carlos Fernando Mathias.

Dez anos esperando por justiça... Flavia e Odele esperando, esperando...

Que a justiça se faça, que os réus sejam condenados a suprir todas as despesas necessárias para que Flavia tenha a melhor qualidade de vida possível, mesmo sendo isso um nada diante do tudo que lhe foi roubado. Nenhum valor irá ressarcir tanta dor, tanto sofrimento, não há o que pague uma vida roubada. De Flavia roubaram parte da infância, anos de juventude, sorrisos, sonhos, até lágrimas de amor que não viveu. Nesses dez anos que permanece adormecida, aconteceram tantas coisas que ela não pôde saber, das quais não participou, com as quais não se emocionou, presa num sono indecifrável, esse mistério que chamam de coma.

Para você, Odele, deixo uma canção que sempre me faz lembrar de você e da Flavia. Quando a ouço, é como se visse você cantando para ela...


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Um pouco de música

31 julho, 2008
Ando sem inspiração para escrever. É como não ter o que falar, ou não querer falar, acaba dando no mesmo, são minhas fases de recolhimento. Quando estou desse jeito leio muito e ouço música quase todo o tempo - com headfone, num comportamento de egoísmo explícito. Aliás, sou do tempo que headfone era apropriadamente chamado de "egoísta"...

Vou deixar músicas para quem aparecer por aqui. Cada uma delas diz um pouco do que não estou conseguindo expressar com palavras, um pouco do que tem ocupado meus pensamentos. Quem gostar de boa música, certamente, irá ouvir.








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João Ubaldo Ribeiro - Prêmio Camões 2008

27 julho, 2008
Faz bem ao nosso patriotismo tão combalido uma notícia como essa! Estamos cansados das manchetes sobre violência, corrupção, e toda a sorte de mazelas que nos horrorizam cotidianamente. Uma mudança de foco ameniza a dor e deixa aquele fiozinho de esperança a dizer que nem tudo está perdido no nosso Brasil Brasileiro. Pessoas como ele deveriam se multiplicar em todos os cantos por aqui, e teríamos nossa realidade transformada.

João Ubaldo é um dos maiores escritores da atualidade. Como se não bastasse o enorme talento, é inteligente, culto e, acima de tudo, um digno cidadão brasileiro. Portanto, a premiação foi mais que merecida.

Nasceu em Itaparica, Bahia, em 1941, filho de Maria Felipa Osório Pimentel e Manoel Ribeiro. Seu pai era extremamente severo, principalmente em relação aos estudos, e Ubaldo, assim que alfabetizado, aos 6 anos, passava horas lendo na biblioteca de sua casa, principalmente Monteiro Lobato. No colégio foi aluno brilhante, estudava latim, francês, inglês, e ainda fazia resumos e traduções dos livros que lia.

Começou a trabalhar aos 16 anos como repórter no Jornal da Bahia. Cursou Direito na Universidade Federal da Bahia e fez pós-graduação em Administração Pública.
Escreveu seu primeiro romance em 1963: Setembro não faz sentido.
Em 1964 foi fazer mestrado em Administração Pública e Ciência Política na Universidade da Califórnia do Sul. Voltou ao Brasil em 1965, e por 6 anos foi professor de Ciências Políticas na Universidade Federal da Bahia, de onde saiu para voltar ao jornalismo.
Com Sargento Getúlio, lançado em 1971, recebeu no ano seguinte o Prêmio Jabuti concedido pela Câmara Brasileira do Livro, na categoria Revelação de Autor.
Em 1994 foi eleito para ocupar a cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras, cujo Patrono é Sousa Caldas (1762-1814).
Sua vasta obra reúne romances, contos, crônicas, ensaios, literatura infantil, muitas traduzidas em vários idiomas.

O Prêmio Camões foi instituído por Brasil e Portugal em 1988, e é conferido anualmente a autores de língua portuguesa que, pelo conjunto da obra, tenham contribuído para enriquecer o patrimônio cultural e literário das duas nações.

Como disse José Saramago, em entrevista sobre a premiação de João Ubaldo Ribeiro, também tenho vontade de dizer bem alto: Viva o Povo Brasileiro!
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A história é a mesma

06 julho, 2008
Não é difícil ouvir as pessoas dizerem que atualmente a vida é pior do que antes. Fala-se que não havia tanta violência, tanta corrupção, tantas coisas deploráveis. No entanto, se analisarmos com mais atenção, veremos que não é bem assim.

O homem primitivo lutava apenas para sobreviver, fosse para se defender de ataques de animais ferozes ou para se alimentar. Mesmo quando se estabeleceu em alguma caverna, já vivendo em bandos, continuou lutando apenas pela sobrevivência, na disputa por abrigo e comida. Mais adiante, começou a fabricar utensílios que tinham finalidades específicas, conforme o local onde habitava e o tipo de desenvolvimento que havia adquirido. Num determinado momento, por bondade ou interesse, alguém ofereceu um objeto ao outro, e este, por sua vez, retribuiu com comida ou com um objeto diferente. Estabelecia-se a troca.

Passado certo tempo, quando o escambo já era efetuado entre bandos distintos, foi criada a moeda, substituindo a simples troca de mercadorias. Há divergências sobre qual povo foi o primeiro a utilizar a técnica da cunhagem de moedas, talvez os chineses ou os lídios, no século VII aC; isso não faz a menor diferença. Importa é que, a partir daí, todo o significado da existência humana se transformou radicalmente.

A moeda nunca foi um fim, um objetivo, ela é um meio para a conquista do poder e a consequente submissão daqueles que não conseguem obtê-la. A lei do mais forte dominando o mais fraco foi substituída pela lei do poderoso contra o despossuído, e a moeda tornou-se símbolo desse processo.

Nada do que existe hoje é pior do que já foi um dia. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, cada vez mais complexo e sofisticado, bem como a divulgação implacável de quaisquer fatos da vida nas mais variadas mídias, causa a sensação que tudo agora é maior e mais frequente que antes. No entanto, a vida é como sempre foi na essência. Pode-se compará-la a uma peça teatral muito antiga, a mais remota que se tem conhecimento, que através do tempo vai sendo encenada sistematicamente; mudam apenas o cenário, o figurino, os atores e a forma de expressão.

Quem dispensa os acessórios percebe o fundamental e sabe que a história é a mesma, apenas contada de forma diferente.

Imagem: betty
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Bernardo Soares - Livro do Desassossego

23 junho, 2008


Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha idéia de os achar belos.
Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos.

Eu não sou pessimista, sou triste.
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Ainda resta o pôr do sol

03 junho, 2008


É um cenário espetacular, sem dúvida, composto por um recorte geográfico deslumbrante que encanta visitantes e enche de orgulho os nativos. O Rio de Janeiro ainda é belo, mas não pode mais ser apreciado como merece.

Houve um tempo em que se vivia em paz por aqui. Lembro dos passeios na Floresta da Tijuca, no Jardim Botânico, no Aterro do Flamengo, no Parque da Cidade, na Quinta da Boa Vista, dos concertos ao ar livre do Projeto Aquarius... Costumava ir a uma igrejinha em Santa Teresa para ouvir música barroca, só oboé e cordas, tocada por um grupo de jovens estudantes de música, alunos de uma professora do bairro. Depois visitava o Museu da Chácara do Céu, e terminava o dia vendo a cidade se acender no Mirante do Rato Molhado.

Na Praia Vermelha, gostava de me sentar pertinho de Chopin, que lá tem uma estátua, e inspirava os namoros nas tardes de verão. Sim, era possível namorar ali ou em qualquer lugar sem medo de violência. Amava-se em paz entre as lindas paisagens da cidade.

Embarcar no bondinho do Pão de Açúcar era sempre uma grande emoção, apenas suplantada pela subida de trenzinho ao Corcovado. A estrada de ferro passa pela maior floresta urbana do mundo, no Parque Nacional da Tijuca, proporcionando aos visitantes um passeio belíssimo. Faz muito tempo que não vou lá, tenho medo de assaltos, que agora são freqüentes.

Na Ipanema provinciana onde me criei, as famílias passeavam na orla após o jantar, mesmo durante a semana, enquanto as crianças brincavam livremente na areia e os adolescentes - essa palavra não era usada, dizia-se "as moças e os rapazes" - formavam rodinhas de violão sob os coqueiros. Sempre havia quem tocasse, e todos cantavam de cor as músicas da bossa nova. Os prédios eram poucos, no máximo com quatro andares, a maioria sem elevador, as casas eram muitas. Como nas pequenas cidades do interior, todos se conheciam e se cumprimentavam nas ruas, com a cordialidade própria entre vizinhos. As pessoas iam à praia no ponto extamente onde moravam, não havia isso de "point", ía-se à praia, apenas isso. Na minha rua não passava ônibus, carros eram pouquíssimos, sempre em velocidade baixa, por serem todos de moradores das imediações. Nos fins de semana estendíamos uma rede entre dois postes para jogar vôlei, e também dávamos voltas de bicicleta na Lagoa Rodrigo de Freitas, tudo isso na maior tranquilidade.

Hoje a poesia não existe mais, a inocência se perdeu, a paz foi esquecida. É verdade, ainda se pode sentar nas pedras do Arpoador e ver o espetáculo do Sol se pondo na direção dos Dois Irmãos, porém sem o coração sereno de antes. Necessário é estar atento, que a violência não tem piedade.
A beleza permanece, mas a cidade está ferida e sangra intensamente.
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Flamengo, meu Mengão!

04 maio, 2008


OH MEU MENGÃO

EU GOSTO DE VOCÊ

QUERO CANTAR AO MUNDO INTEIRO

A ALEGRIA DE SER RUBRO-NEGRO
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Ozzy Osbourne - A lenda

04 abril, 2008
É impossível falar de uma lenda viva como Ozzy Osbourne - a qual se espera 13 anos para ver - sem ser parcial, emotivo e acima de tudo: um fã fervoroso.

Com bandas de abertura como Black Label Society (tendo como frontman Zack Wylde, guitarrista de Ozzy) e o ícone do 'nu metal' Korn, foi uma noite inesquecível para a quase totalidade dos roqueiros cariocas presentes na HSBC Arena.

A presença de palco, o carisma transbordante e a sabedoria de um veterano ao lidar com um público que praticamente todo nunca o viu, são fatores determinantes para garantir o sucesso de uma noite como a que foi. Eu tive a oportunidade de ver um Ozzy tão louco quanto esse em 1995, porém não tão emocionado, não tão rendido ao público como ele estava. O jogo estava ganho, ele entrou em campo já com a vitória garantida. Sua banda também demonstrava essa empolgação extra, principalmente o baterista Mike Bordin, o que provava que não seria um show qualquer. Um pouco mais longo do que os outros show dessa atual turnê, contou com 15 músicas (uma a mais do que o normal).

Repertório impecável, com apenas 3  músicas - muito bem escolhidas - do álbum mais recente Black Rain, destacando-se a bela balada 'Here for You', que mesmo sem ser conhecida ainda do público em geral, provocou aplausos reconhecedores de que o velho Madman ainda está lá, fazendo música boa.
Duas gratas surpresas foram 'No More Tears', ao lado dos já manjadíssimos e esperados hits da carreira solo dele, 'Crazy Train' e 'Mr. Crowley'; e ao lado de 'Iron Man' e 'Paranoid' dos tempos de Black Sabbath. Houve espaço para 'War Pigs' surpreendentemente cantada em uníssono por um público de 3 gerações.

Ozzy velho?! Talvez os 59 anos de tantas drogas e excessos cometidos no auge da era mais rock 'n roll que a humanidade já conheceu (leia-se anos 70), pesassem para qualquer pessoa, porém, para Ozzy, a sua falta de coordenação e agilidade não o impedem de ter uma ótima performance, cantar bem e ainda agitar o tempo todo. Foram incontáveis baldes d’água jogados no público. Público, é claro, que nunca irá esquecer: "Fui molhado pelo Ozzy p****!!", "Inacreditável", "O cara é maluco". É cara pálida, estamos no show do Mr. Madman.

O ponto alto da noite foi, sem dúvida, o mais insano que vi em 27 anos de rock 'n roll. A banda tocava a última música, 'Paranoid', quando logo após o solo Zack Wylde jogou a guitarra, uma Gibson personalizada, para o público à sua frente e, 2 segundos depois, resolveu se atirar junto, não sei se a fim de pegar a guitarra de volta ou fazer um mosh meio irresponsável com um público enlouquecido e agitado. Infelizmente, no Brasil, as coisas não funcionaram como ele talvez esperasse e é óbvio, que a guitarra voltou - depois de muita luta e esforço por parte dos seguranças - quebrada no braço e sem nenhuma corda, evidentemente. Zack levantou a guitarra resgatada como se fosse um troféu, mostrando para o público urrar comemorando a selvageria e sob os olhares arregalados do chefinho Ozzy, que à essa altura nem estava mais pensando em nada, a não ser descansar, assim como eu.

Set list:
I Don't Wanna Stop
Bark At The Moon
Suicide Solution
Mr. Crowley
Not Going Away
War Pigs
Road To Nowhere
Crazy Train
solo (Zakk Wylde)
Iron Man
I Don't Know
No More Tears
Here For You
I Don't Want To Change The World
Mamma I'm Coming Home
Paranoid

Review: Pedro Vernieri
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Todo dia é de poesia, mas hoje ainda é mais!

14 março, 2008
O título deste post é do amigo Fernando.

O dia 14 de março foi escolhido como o Dia Nacional da Poesia em homenagem ao grande poeta baiano Castro Alves (1847-1871), o Poeta dos Escravos. É o dia do seu nascimento.

Poeta romântico, movido por anseios de liberdade e justiça, defendia o fim da escravidão. No seu livro Os Escravos estão os poemas mais clássicos: Navio Negreiro e Vozes d'África.
As poesias lírico-amorosas estão em Espumas Flutuantes. Outras tantas estão reunidas em A Cachoeira de Paulo Afonso.
Há ainda grande número de belíssimos poemas avulsos, dentre os quais transcrevo:

Fados Contrários

Diz à flor a borboleta:
"Vamos, irmã, tudo é luz!
Há muito prisma doirado
Que pelos ares transluz...
Tuas pétalas são asas...
Das nuvens nas tênues gazas,
D'aurora nos seios nus
Tens um ninho entre perfumes...
Vamos boiar, entre lumes
Desses páramos azúis".

À linda filha dos ares,
Responde a silvestre flor:
"Eu amo o gemer das auras
E o beijo do beija-flor...
Se és do céu a violeta,
Sigo um destino menor.
Buscas o céu - eu a alfombra,
Queres a luz - quero a sombra,
Pedes glória - eu peço amor.



Feita a homenagem ao patrono do dia, vale lembrar outro grande poeta: Vinicius de Moraes.

Nascido no Rio de Janeiro, em 19 de outubro de 1913, foi diplomata, poeta, compositor, dramaturgo, crítico de cinema, muitos de seus poemas foram musicados, e viveu, viveu intensamente.

Vinicius era tantos que dele disse Manoel Bandeira: "Tem o fôlego dos românticos, a espiritualidade dos simbolistas, a perícia dos parnasianos (sem refugar, como estes, as sutilezas barrocas) e, finalmente, homem bem do seu tempo, a liberdade, a licença, o esplêndido cinismo dos modernos".


Soneto de Separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

- Poemas, Sonetos e Baladas -


Libelo
De que mais precisa um homem senão de um pedaço de mar - e um barco com o nome da amiga, e uma linha e um anzol pra pescar?

E enquanto pescando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos, uma pro caniço, outra pro queixo, que é pra ele poder se perder no infinito, e uma garrafa de cachaça pra puxar tristeza, e um pouco de pensamento pra pensar até se perder no infinito...

- Mas o amigo foi ludibriado, e é preciso por ele lutar!

De que mais precisa um homem senão de um pedaço de terra - um pedaço bem verde de terra - e uma casa, não grande, branquinha, com uma horta e um modesto pomar; e um jardim - que um jardim é importante - carregado de flor de cheirar?

E enquanto morando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos pra mexer na terra e arranhar uns acordes no violão quando a noite se faz de luar, e uma garrafa de uísque pra puxar mistério, que casa sem mistério não vale morar...

- Mas a terra foi escravizada, e é preciso por ela lutar!

De que mais precisa um homem senão de um amigo pra ele gostar, um amigo bem seco, bem simples, desses que nem precisa falar - basta olhar - um desses que desmereça um pouco da amizade, de um amigo pra paz e pra briga, um amigo de casa e de bar?

E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de suas mãos para apertar as mãos do amigo depois das ausências, e pra bater nas costas do amigo, e pra discutir com o amigo e pra servir bebida à vontade ao amigo?

- Mas o amigo foi ludibriado, e é preciso por ele lutar!

De que mais precisa um homem senão de uma mulher pra ele amar, uma mulher com dois seios e um ventre, e uma certa expressão singular? E enquanto passando, enquanto esperando, de que mais precisa um homem senão de um carinho de mulher quando a tristeza o derruba, ou o desatino o carrega em sua onda sem rumo?

Sim, de que mais precisa um homem senão de suas mãos e da mulher - as únicas coisas livres que lhe restam para lutar pelo mar, pela terra, pelo amigo...

- Para uma menina com uma flor -
(Uma crônica belíssima. Não será ela também poesia?)



Eu Sei Que Vou Te Amar

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

- Música em parceria sublime com Tom Jobim -
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Henry Marie Raymond de Toulouse-Lautrec

06 março, 2008
Toulouse-Lautrec, um dos grandes gênios da pintura, nasceu na França, em 1864, numa família de aristocratas. Sua vida foi marcada por uma doença óssea que lhe fez fraturar o fêmur esquerdo aos 14 anos e o direito menos de um ano depois. A partir daí, as pernas se atrofiaram tão severamente que lhe dificultavam a locomoção, e sua estatura não passava de 1,52m. O desgosto com a aparência pode ter sido o motivo do alcoolismo, da vida boêmia e da morte prematura aos 37anos.

Em 1881, montou um ateliê no bairro de Montmartre, Paris. Vivia pelos cabarés, teatros, prostíbulos, sempre em rodas de amigos, cercado por criadas, cortesãs e artistas populares - essa a atmosfera que tornaria célebre sua obra.

Apesar de ter sido contemporâneo dos impressionistas, ao contrário deles, não se interessava por paisagens, e sim por ambientes interiores. Seu estilo era de pinceladas rápidas, com elementos essenciais destacados por meio de colorido leve e suave, de extraordinário equilíbrio cromático, aplicação da cor em áreas planas e uniformes. As figuras se situam na tela em contornos sintéticos, de forma que as pernas não fiquem visíveis e o movimento seja apenas sugerido, podendo tal detalhe ser interpretado como um reflexo de sua própria condição física.

Influenciado no início por Degas e pela gravura japonesa, adquiriu personalidade artística própria, conhecida como expressionismo psicológico.
A partir de 1892, dedicou-se à litografia - produziu mais de 300 - com destaque à série Elles, um panorama da vida nos bordéis.
Os cartazes que fez para Aristide Bruant, Jane Avril, May Belfort e outros artistas, lhe deram excepcional popularidade, assim como as litografias.

A importância da obra de Toulouse-Lautrec foi reconhecida como uma revolução na concepção do cartaz publicitário, prefigurando os revolucionários movimentos artísticos do século XX, como o fauvismo, o cubismo e o expressionismo.

















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O outro prato da balança

28 fevereiro, 2008
Meu primeiro blog chamava-se "Hier Encore" em homenagem a Charles Aznavour, autor e intérprete dessa música linda, tanto na melodia quanto na letra. O tema era descrito com as seguintes palavras:
"Uma reflexão sobre o tempo e sobre o modo como utilizamos esse breve momento que chamamos existência.
Ainda ontem, eu tinha vinte anos, e num átimo estou envelhecendo. A gente nem percebe como o tempo se esgota. Amanhece, logo já é noite, e um novo amanhecer sucede à escuridão. Lá se vão os dias, os anos e a vida..."


Nunca foi um blog popular, como este também não é, porém me dava um enorme prazer escrever naquele espaço. Era uma conversa entre "eu e mim"... O provedor não era dos melhores, havia certa dificuldade na edição dos posts e dos comentários, o que me levou a procurar outro que me agradasse mais. Assim, vim para o BlogSpot, ao qual não faço restrições. O nome do blog mudou para Betty e me entrosei melhor com a blogosfera. Passado mais de um ano, é hora de fazer um balanço.

Percebi que temos dado muita ênfase a assuntos pesados, principalmente os de cunho político, sendo que pouco adianta falarmos exaustivamente sobre as mesmas questões, nos iludirmos que podemos mudar alguma coisa a curto ou médio prazo. Não podemos. Somos um número inexpressivo de seres pensantes em relação à grande massa ignara, e ela é quem decide as eleições no Brasil. A nós, resta irmos levando sem maiores expectativas, pois as mudanças necessárias não serão vistas pela nossa geração. O caminho é árduo e longo, implica no investimento massivo em cultura e educação formal, coisas de pouco valor por aqui. Um dia, quem sabe...

Não preciso, nem desejo, alardear que sou uma pessoas preocupada com o destino do planeta e da humanidade, até porque as mais puras atitudes são silenciosas. Sei que jamais me afastarei dos meus princípios, valores transmitidos pela minha família, por alguns professores durante os anos de estudo e, principalmente, por meu pai, meu mestre maior. No entanto, sei também diferenciar o que me cabe daquilo que de mim não depende. Faço a minha parte, o que é da minha responsabilidade, usando meus talentos, tentando superar minhas limitações, e disso não abro mão.

A vida não é só tragédia e dor, existem coisas boas acontecendo, é preciso olhar em outras direções: cientistas trabalhando pela cura das doenças, pessoas zelosas que não desperdiçam nem poluem, outras tantas fazendo bem ao próximo, artistas criando belezas que nos encantam, todos contribuindo para o bem, o belo e o melhor. De tristezas, basta as que estão nas manchetes cotidianamente. Quero escrever sobre música, cinema, literatura, sobre coisas bonitas, porque o mundo já está feio demais para meu gosto. Quero paisagens serenas, não apenas as de desgraças mundo afora. Quero flores no meu jardim.

Não pretendo me tornar uma alienada, só quero acrescentar um toque de delicadeza no outro prato da balança.

Imagem: Philip Craig
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Esperança - Mário Quintana

22 fevereiro, 2008
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
– ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
– Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Imagem: Richard Zolan
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Alberto Caeiro

17 fevereiro, 2008
Alberto Caeiro é um dos heterônimos de Fernando Pessoa, que assim narrou seu surgimento numa carta a Adolfo Casais Monteiro:
"... lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro – de inventar um poeta bucolico, de especie complicada, e apresentar-lh’o, já não me lembro como, em qualquer especie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma commoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa especie de extase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triumphal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um titulo, "O Guardador de Rebanhos". E o que se seguiu foi o apparecimento de alguem em mim, a quem dei logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da phrase: apparecera em mim o meu mestre."

O Guardador de Rebanhos - fragmentos

I
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
.............................
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.



II
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...



IX
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.



XXI
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...



XXVI
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!



XXVIII
Os poetas místicos são filósofos doentes,
E os filósofos são homens doidos.



XXXVIII
Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu,
E nesse puro momento
Todo limpo e sensível
Regressam lacrimosamente
E com um suspiro que mal sentem
Ao homem verdadeiro e primitivo
Que via o Sol nascer e ainda o não adorava.
Porque isso é natural – mais natural
Que adorar o ouro e Deus
E a arte e a moral...
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Miguel Torga - Aos Poetas

23 janeiro, 2008
O poeta e prosador português Miguel Torga, várias vezes premiado, deixou-nos vasta obra em poesia, prosa, peças teatrais e 16 volumes de seus diários, muitas traduzidas para vários idiomas.

Faz um ano que conheci esse grande autor por indicação do Fernando, querido amigo de além-mar, e foi um caso de amor à primeira vista. Aliás, o Fernando, também apaixonado por poesia, me faz conhecer poetas maravilhosos, e lhe sou grata por isso, até porque os poemas vêm sempre com sorrisos, flores e música...



Aos Poetas

Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!

E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestreis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopéia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!

Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!

Imagem: Fabian Perez
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Beatles em chorinho

21 janeiro, 2008
Descobri uma coleção musical espetacular: Beatles 'N' Choro!
São músicos brasileiros da melhor qualidade executando a obra dos Beatles em chorinho.



Para quem não conhece chorinho, eis um texto copiado do site:
"Botequim do Samba"

Gênero criado a partir da mistura de elementos das danças de salão européias (como o schottisch, a valsa, o minueto e, especialmente, a polca) e da música popular portuguesa, com influências da música africana. De início, era apenas uma maneira mais emotiva, chorosa, de interpretar uma melodia, cujos praticantes eram chamados de chorões. Como gênero, o choro só tomou forma na primeira década do século 20, mas sua história começa em meados do século XIX, época em que as danças de salão passaram a ser importadas da Europa. A abolição do tráfico de escravos, em 1850, provocou o surgimento de uma classe média urbana (composta por pequenos comerciantes e funcionários públicos, geralmente de origem negra), segmento de público que mais se interessou por esse gênero de música.

Em termos de estrutura musical, o choro costuma ter três partes (ou duas, posteriormente), que seguem a forma rondó (sempre se volta à primeira parte, depois de passar por cada uma). A origem do termo choro já foi explicada de várias maneiras. Para o folclorista Luís da Câmara Cascudo, esse nome vem de xolo, um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas; de xoro, o termo teria finalmente chegado a choro. Por outro lado, Ary Vasconcelos sugere que o termo liga-se à corporação musical dos choromeleiros, muito atuantes no período colonial. José Ramos Tinhorão defende outro ponto de vista: explica a origem do termo choro por meio da sensação de melancolia transmitida pelas baixarias do violão (o acompanhamento na região mais grave desse instrumento). Já o músico Henrique Cazes, autor do livro Choro - Do Quintal ao Municipal, a obra mais completa já publicada até hoje sobre esse gênero, defende a tese de que o termo decorreu desse jeito marcadamente sentimental de abrasileirar as danças européias.




* O vídeo foi atualizado em junho de 2018; o anterior não estava mais disponível no YouTube.
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Sei não...

13 janeiro, 2008
Longe de toda essa loucura urbana, sem tv, internet, jornal, nada além de descanso, bons papos, música e longas caminhadas. Em infinitos matizes, o verde dos campos me acalma, me traz sensação de paz, assim como os riachos e as pequenas quedas d'água. Pisar sobre um colchão de folhas e gravetos, ouvindo o ruído que meus passos provocam, admirar uma velha árvore, sentar embaixo dela e ficar em silêncio no aconchego da mãe terra. Eu precisava disso.

Apesar de ser um bicho urbano - nasci e me criei na cidade do Rio de Janeiro, tenho fases de me recolher. Gosto da proximidade do mar, do cheiro de maresia, da brisa que corre na orla, de olhar o horizonte e me deslumbrar com o pôr do sol, mas não de areia, nem de claridade e calor excessivos. O Rio só conhece duas estações: o calor e o verão; terminantemente, não me adapto a esse clima!

Mudou o calendário, festejou-se o novo ano como se a mera mudança de data pudesse transformar o mundo e a existência de cada um. Ilusão... Quando amanhece o primeiro dia de janeiro tudo está como sempre esteve, a luta pela vida continua, com todas as peças do jogo no mesmo lugar, do jeito que foram deixadas na noite anterior. Vale a festa pelo significado simbólico, esperança de tempos melhores, luzes dos fogos a iluminar o céu, beleza do momento, enfim. Não participo porque não vejo sentido para tanta euforia e não me sinto bem na multidão que se forma pelas praias e ruas, quase toda movida a álcool e drogas. Não, isso nada tem a ver comigo.

O ser humano não tem muito a comemorar, perdeu o rumo em meio à indignidade. A realidade costuma ser difícil de enfrentar, e muitas pessoas, num mecanismo de defesa, preferem fingir que tudo vai bem. Aquelas que não conseguem ser alto astral o tempo todo, entre as quais me incluo, vão ficando reclusas a pequenos guetos, porque ser gauche está fora de moda, destoa da falsa alegria reinante.

Se a humanidade não mudar de rumo, sei não...
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