Luz e sombra

24 setembro, 2007
Acordo sem despertar
como se o sono permanecesse
causando torpor e distanciamento
das cores do dia
das pessoas à minha volta
dos sons cotidianos
das notícias nos jornais.

Inicio a jornada automaticamente
como máquina programada
tarefas repetitivas
sempre monótonas
previsíveis
onde não interfere vontade
ou emoção.

Por todas essas longas horas
sou um corpo sem alma
perdida de mim
de qualquer objetivo
sem sonhos
nem realizações.

Quando enfim o dia se aquieta
e escurece
tornando visível o universo
meu coração se ilumina
bate mais forte
retomo a vida
e a paixão.

- betty -

Imagem: betty
continuar lendo

Sem cabeça

14 setembro, 2007


procuro
sem pressa
peças
de um quebra-cabeça

dois pontinhos brilhando
são os olhos!
lindos
boca sorrindo
feliz
achei!
braços
abertos ao vento
como asas
encontrei!
mas onde está a cabeça?

ah, vejo o coração!
vermelho paixão
só não vejo a cabeça
onde está a cabeça?

preciso encontrar a cabeça...

- betty -

Imagem: Vitória de Samotrácia - Museu do Louvre
continuar lendo

Luciano Pavarotti

07 setembro, 2007



"Penso que a vida pela música seja uma vida bem vivida, e foi a isto que me dediquei."

Luciano Pavarotti (1935 - 2007)




A música clássica e o canto lírico não fazem parte da cultura brasileira. Poucos são os que apreciam o gênero fora do meio artístico, o que é lamentável. Em que pese alguns momentos na década de 70, com os grandes concertos ao ar livre sob a regência do maestro Isaac Karatchevsky pelo Projeto Aquarius, muito pouco foi feito para a divulgação da música erudita no Brasil.

Sou descendente de imigrantes italianos, tanto do lado paterno quanto do materno. Cresci ouvindo de meus avós as histórias e as belezas da terra natal. O lado paterno veio do norte, Veneza, e o lado materno do sul, Nápoles. Através deles conheci as áreas mais famosas das grandes óperas. São essas as músicas que me transportam ao aconchego das minhas origens.

Luciano Pavarotti, italiano de Modena, partiu na madrugada de 6 de setembro. Sua voz se calou depois de mais de 40 anos nos encantando. Foi com ele que o canto lírico chegou às multidões, nos estádios, nos shows beneficentes, em duetos com os grandes ícones da música popular mundial. Para mim, o maior tenor de todos os tempos.

Alguns puristas o condenam por essa popularização do canto lírico, mas isso beira ao ridículo, pois a música, a maior das expressões artísticas, é a perfeita forma de comunicação universal. Uma melodia, popular ou erudita, mesmo acompanhada de uma letra em idioma não entendido pelo ouvinte, por si só pode ser sentida e compreendida, remetendo a determinado estado de espírito.

Acima de toda a técnica e inigualável talento, vejo em Pavarotti alguém que viveu pela música e soube compartilhá-la com a humanidade. Ele saiu do gueto para as multidões e nos ofereceu a beleza da música sem fronteiras.

De todas as manifestações de pesar, a mais tocante foi a de Bono Vox, do U2, que divulgou no site oficial da banda um texto em homenagem a Pavarotti. Os dois foram parceiros na música "Miss Sarajevo".

"Alguns conseguem cantar ópera. Luciano Pavarotti era uma ópera.
Ele vivia as canções, sua ópera era uma grande mistura de alegria e tristeza; surreal e mundana ao mesmo tempo; um grande vulcão de um homem que cantava fogo mas fazia isso como um grande amor pela vida em toda a sua complexidade, um grande e generoso amigo."


Esteja em paz Luciano Pavarotti.
continuar lendo