
Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos...)
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pólen...
como aquela nuvem além (veem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
Imagem: Mehmet Ozgur
Acho que eu fumaria a minha amada. Seria a nova moda nos motéis da cidade. Inclusive um álibi perfeito: "sabe, Doutor, não consegui evitar. Admito que estava viciado nela. Amor tem dessas coisas...".
ResponderExcluirGrande poema de José Gomes Ferreira. Excelente selecção amiga.Incluo-o também nos meus Top 50 da poesis em Língua Portuguesa. Flores, sorrisos, um abraço (hoje afinal é The Hug Day) e ...poesia
ResponderExcluirBetty
ResponderExcluirIntrigante poesia.
O comentario de Beto eh muito bom ... fumaria a minha amada ... rs
Nao sei ver partir entes queridos, talvez nao fosse a tal evento ... longe, sentiria paz, sabendo "dele" feliz.
Luiz Melodia, canta ... se alguem quer me matar de amor, que me mate no Estacio ... bem no compasso, bem junto ao passo ....
Ainda nao sei como gostaria de ir para o andar de cima, mas como pobre mortal, so peco a Deus que Se apiede e nao me deixe sofrer muito.
Beijinhos e bom final de semana.
Betty
ResponderExcluirQue bom voltar ao seu cantinho delicioso!
Maravilhoso de ler!
só consegui comentar como anonimo
Elisabete Cunha
É uma idéia interessante esta de transfigurar-se na morte. A imagem - bonita que só - dá uma idéia de como seria bonita essa "passagem".
ResponderExcluirBeijos querida.
Betty
ResponderExcluirMe envie email, formatei pela enesima vez, so que nao tenho os enderecos pode?
Por favor, Me envie os emails da galera que temos contato, inclusive da Regina-Maravilhosa.
Beijinhos
Poema arrepiante, Betty! Li e reli inúmeras vezes. E, com a sua devida permissão, gostaria de arquivar no meu PC pra ler sempre.
ResponderExcluirBjooooooooo!!!!!!!
Algumas pessoas ocupariam por muito seus amigos, rs... diria que o tempo já faz isso conosco, mas ao invés de nuvens, vamos nos tornando terra seca: por fora cheia de marcas, por dentro com algo ainda que sugira e brote vida.
ResponderExcluirótimos dias pra ti!
Já eu, Betty, gostaria de morrer no carnaval, de uma síncope cardíaca fulminante, de preferência no Galo da Madrugada... Mas só no finalzinho, pra eu poder aproveitar até o fim e, ainda, não "cortar o barato" da minha turma em plena folia ...KKKKKKKK!!!
ResponderExcluirBeijos atrasadíssimos