Alberto Caeiro

17 fevereiro, 2008
Alberto Caeiro é um dos heterônimos de Fernando Pessoa, que assim narrou seu surgimento numa carta a Adolfo Casais Monteiro:
"... lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro – de inventar um poeta bucolico, de especie complicada, e apresentar-lh’o, já não me lembro como, em qualquer especie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma commoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa especie de extase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triumphal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um titulo, "O Guardador de Rebanhos". E o que se seguiu foi o apparecimento de alguem em mim, a quem dei logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da phrase: apparecera em mim o meu mestre."

O Guardador de Rebanhos - fragmentos

I
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
.............................
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.



II
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...



IX
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.



XXI
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...



XXVI
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!



XXVIII
Os poetas místicos são filósofos doentes,
E os filósofos são homens doidos.



XXXVIII
Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu,
E nesse puro momento
Todo limpo e sensível
Regressam lacrimosamente
E com um suspiro que mal sentem
Ao homem verdadeiro e primitivo
Que via o Sol nascer e ainda o não adorava.
Porque isso é natural – mais natural
Que adorar o ouro e Deus
E a arte e a moral...

comentários

  1. Betty querida,
    É por este e por outros motivos que gosto de vir aqui, para encontrar os grandes mestres da literatura selecionados a dedo por sua sensibilidade. Este poema de Pessoa na forma de Alberto Caeiro deixa a gente sem palavras, tamanha a sabedoria e a forma de se expressar diante da vida. Obrigada por compartilhar conosco estes mestres. Deixei uma lembrancinha pra você no blog.
    Beijos,
    Rosana

    ResponderExcluir
  2. Betty querida,
    Eu amo Fernando Pessoa e seus heterônimos, tamanha genialidade que não cabia em um homem só!
    Vir aqui e me deparar com tão bela poesia é um belo presente para essa noite de domingo...obrigada!
    Até amanhã respondo seu e-mail, estava morrendo de saudades de você amiga tão querida, mas por minha culpa mesmo...rs
    A Rosana tb me presenteou, junto com você, e eu a presenteei de volta, pass alá no blog tá? Se puder, faça-me o favor de colocar o selo no meu post? Fiz as indicações até, mas não ocnsegui de maneira alguma por o selinho lá...rs, desde já, obrigada!

    Espero poder em breve te dar boas notícias sobre o resultado que espero tá? Creio que até terça/quarta feira saia.

    Uma semana iluminada, Beijo carinhoso, Cris

    ResponderExcluir
  3. Querida,
    Voltei, pois me esqueci de comentar que as mudanças feitas ficaram lindas...Adorei!

    ResponderExcluir
  4. Noooooooooosssssssssaaaaaaaaa!!!! Como ficou bonito este novo template, Betty!!!!!! E, pra inaugurar, Pessoa!!!!!!
    Nada mais a escrever! Basta ler e admirar!
    Bjoooossss!!!!

    ResponderExcluir
  5. Betty, passando para ler seu belo post e desejar a você um excelente final de dia.

    ResponderExcluir
  6. Olá Betty
    Sempre uma lição de literatura seus posts.
    às vezes vejo blogs tão organizados como o seu que fico corado com o meu, tão desorganisado e caótico!
    São o reflexo de nossas mentes!
    Por exemplo, veja só que coisa:
    OS GORDOS TAMBÉM MENTEM, uma sátira!
    Beijos

    ResponderExcluir
  7. Bravo!bravo!bravo!
    Tudo que somos é resultado do que pensamos. (Buda)

    Lindo finalde semana e aparece!

    ResponderExcluir