Enquanto tudo continua igual...

22 agosto, 2010
Domingo, dia de relaxar num passeio ao ar livre, ou em casa lendo, ouvindo música, assistindo aquele filme que está na fila esperando faz tempo, se possível em boa companhia. Teremos sol, finalmente, diz a meteorologia.



Lembrei de domingos distantes, tempos descompromissados de juventude, do rir à toa, de ir ao Pão de Açúcar depois da praia ver o Sol se pôr, apenas pelo prazer de estar ali. Às vezes subir a serra para passear em Petrópolis, ou no Parque da Serra dos Órgãos, em Teresópolis. Uma delícia! As noites eram tranquilas, sem bailes funk, sem pancadão, no máximo o som de um violão. Andava-se muito a pé, sem sobressaltos; quando de carro, sem engarrafamentos nem insulfilme. Tão diferente dos domingos de agora...

Quem vive no Rio brinca de imaginar que nada está fora do lugar, que a violência é um exagero da mídia alarmista, que a cidade não oferece riscos, que se pode apreciar seus encantos na certeza de voltar para casa incólume. Talvez seja um mecanismo inconsciente capaz de manter a sanidade mental diante de uma guerra urbana que parece não ter fim.



Ontem foi mais um dia tenso, tiroteio com armas pesadas, granadas explodindo, pânico, tristeza, muita tristeza. Aconteceu em São Conrado, bairro de classe média alta, condomínios caríssimos, aos pés da favela da Rocinha. A cidade é assim, ondulada faixa de terra entre montanha e mar, tão bonita que se sobrepõe ao horror de suas entranhas.



O governo criou as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) que ocupam favelas expulsando os traficantes, mas esqueceu de planejar como cuidar do efeito colateral mais importante desse projeto. O que fazem os bandidos sem o dinheiro do tráfico? Claro, vêm para o asfalto roubar. Antigamente se dizia que isso é cobrir um santo descobrindo outro.



A ideia das UPPs é boa, porém existem muitas consequências que requerem máxima atenção das autoridades competentes. Não me refiro apenas ao destino dos traficantes, mas também à valorização dos imóveis nas comunidades pacificadas, muitos de alvenaria, em verticalização acelerada, comercializados por preços inimagináveis, principalmente pela proximidade com os bairros, facilitando acesso ao trabalho, e pela paisagem privilegiada. Ter um imóvel na favela começa a ser um negócio rentável, cuja expansão será inevitável caso não sejam adotadas medidas urgentes.

O assunto é bem mais complexo do que se pode imaginar, requer estudo sério, nada de soluções improvisadas, e sim trabalho árduo feito por gente competente. Caso contrário, a cidade irá sucumbir em breve.

Enquanto tudo continua igual, o jeito é fingir que reina a mais perfeita paz, que podemos aproveitar o domingo e, logo mais, estaremos vivos em casa.
Que assim seja!

comentários

  1. Betty,

    É mesmo uma pena, que uma cidade tão bonita quanto o Rio de Janeiro, tenha que conviver com a violência constante. E seus moradores tenham que viver assustados.
    Mas a violência hoje existe em todas as cidades, até mesmo aquelas do interior, antes tão pacatas.
    O governo teria que investir pesado no combate à violência. Tem que ter um jeito de não nos deixar reféns do medo.

    Bom fim de semana, Betty querida.

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  2. saiu na tv sueca..deus nos livre, betty...Deus nos Livre...Grace

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  3. É preciso descobrir no jovem qualidades para ele se sentir valorizado, ter o que fazer e não cair no mundo das drogas. O mal tem que ser cortado com educação e melhora da auto estima. Lazer, saúde e trabalho para o povo!! Beijus,

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  4. É mesmo lamentável saber que numa cidade tão linda como o Rio persistam problemas que parecem sem solução. Melhor então imaginar que tudo vai bem, enquanto nos encantamos com suas belas paisagens.
    Obrigado pelo seu apoio lá no blog de cinema, o Le Matinée.
    Bjoo!!

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